1. Muito engraçado - muito. Eu, pelo menos, divirto-me à beça. Pelo menos depois de sentir um nó na garganta e um embrulho no estômago... Refiro-me à tese do "desencantamento do mundo".
2. É assim. Europeus escreveram sobre um suposto "desencantamento do mundo", como se o mundo, de uma hora para outra, perdesse sua roupa divina. E lá se apressa a citação nietzscheana, que na modernidade, é o que vale: "Deus está morto". Sabe-se que não se trata de uma descrição "real" da realidade, sequer da européia, e, todavia, ela é tomada como se "real" fora. No Congresso da ABIB (2008/SP), de um lado, meu amigo André Chevitarese deixou claro para nós que, não obstante as excitadíssimas publicações (e seu conseqüente estouro da manada) a respeito de pós-modernidade, em terras latino-americas não saímos sequer da Idade Média, e, de outro, o Prof. Dr. Milton Schwantes afiançou-nos quanto ao fato de que o Iluminismo não saiu da Europa, e, ainda ssim, restritíssima acertas porções super-europeias da Eurora... Mas quem liga, não? É pós-modernidade pra cá, é desencantamento pra lá...
3. Juntando os pedaços, eu diria que nunca houve desencantamento algum do mundo, nem mesmo lá, onde a crítica do XIX se fez ouvir. Falácia. Fora de lá, os deuses continuaram a viver sobre as pessoas, dentro delas, agarradas em seus pés, arrastados pelas ruas, sentados sobre suas cabeças, enfiados em todos os seus buracos, e sequer deram ouvidos àquele movimento de suposto desencatamento menor-europeu. Ouviu-se um ruído desde aquelas bandas, avaliou-se-lhe, deu-se-lhe por traque de besouros, e a azáfama divina dos milhões de deuses continuou, como se fora a chegada de um trem nas estações de Bangladesh...
4. No Oriente, na América, mesmo na Teologia universitária, mesmo na Europa, cá entre nós, quando é que o mundo se desencantou? Todavia, é o que você ouvirá de livros escritos, de artigos publicados, como se o que três ou quatro europeus dissessem fosse sempre adequado, ainda que, entre um piscar de olho e outro, três deuses lhe cagam na cabeça, que são como bandos de pombos, até hoje... bandos a voar, seja de deuses, seja de demônios - o que dá no mesmo...
5. O máximo que se poderia dizer, e mesmo isso, tão-somente para a Europa, para um pequeno pedaço da Europa, é que o sagrado revestiu-se de outras formas, igualmente religiosas, mas que não se reconhecem por religiosas porque o compasso é diferente, como quem dissesse que não é música o que se faz no Japão, porque não se segue o compasso das sete notas...
6. Gênio mesmo não é quem vendeu bilhetes para a sessão do "desencantamento do mundo" - um ilusionista, o camarada... Gênio mesmo é quem está vendendo bilhetes para a sessão do re-encantamento: que senso de oportunidade, não?!
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2. É assim. Europeus escreveram sobre um suposto "desencantamento do mundo", como se o mundo, de uma hora para outra, perdesse sua roupa divina. E lá se apressa a citação nietzscheana, que na modernidade, é o que vale: "Deus está morto". Sabe-se que não se trata de uma descrição "real" da realidade, sequer da européia, e, todavia, ela é tomada como se "real" fora. No Congresso da ABIB (2008/SP), de um lado, meu amigo André Chevitarese deixou claro para nós que, não obstante as excitadíssimas publicações (e seu conseqüente estouro da manada) a respeito de pós-modernidade, em terras latino-americas não saímos sequer da Idade Média, e, de outro, o Prof. Dr. Milton Schwantes afiançou-nos quanto ao fato de que o Iluminismo não saiu da Europa, e, ainda ssim, restritíssima acertas porções super-europeias da Eurora... Mas quem liga, não? É pós-modernidade pra cá, é desencantamento pra lá...
3. Juntando os pedaços, eu diria que nunca houve desencantamento algum do mundo, nem mesmo lá, onde a crítica do XIX se fez ouvir. Falácia. Fora de lá, os deuses continuaram a viver sobre as pessoas, dentro delas, agarradas em seus pés, arrastados pelas ruas, sentados sobre suas cabeças, enfiados em todos os seus buracos, e sequer deram ouvidos àquele movimento de suposto desencatamento menor-europeu. Ouviu-se um ruído desde aquelas bandas, avaliou-se-lhe, deu-se-lhe por traque de besouros, e a azáfama divina dos milhões de deuses continuou, como se fora a chegada de um trem nas estações de Bangladesh...
4. No Oriente, na América, mesmo na Teologia universitária, mesmo na Europa, cá entre nós, quando é que o mundo se desencantou? Todavia, é o que você ouvirá de livros escritos, de artigos publicados, como se o que três ou quatro europeus dissessem fosse sempre adequado, ainda que, entre um piscar de olho e outro, três deuses lhe cagam na cabeça, que são como bandos de pombos, até hoje... bandos a voar, seja de deuses, seja de demônios - o que dá no mesmo...
5. O máximo que se poderia dizer, e mesmo isso, tão-somente para a Europa, para um pequeno pedaço da Europa, é que o sagrado revestiu-se de outras formas, igualmente religiosas, mas que não se reconhecem por religiosas porque o compasso é diferente, como quem dissesse que não é música o que se faz no Japão, porque não se segue o compasso das sete notas...
6. Gênio mesmo não é quem vendeu bilhetes para a sessão do "desencantamento do mundo" - um ilusionista, o camarada... Gênio mesmo é quem está vendendo bilhetes para a sessão do re-encantamento: que senso de oportunidade, não?!
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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