sábado, 1 de maio de 2010

(2010/357) Do jogo da vida


1. Salvo se ele opta pelo suicídio, nenhum homem pode fugir à sina de, para manter-se vivo, comer e beber. O modo como agirá para ter o que comer e beber variará de cultura para cultura, de época para época. O que não há de variar é o destino impositivo de "trabalho". O resto, é pura invenção, no sentido da criatividade e do jogo. Não há nada mais que seja "destino". Tudo o mais é criação cultural humana. A arte, a ciência, a política, a guerra, a investigação, a religião. O homem, em tese, pode viver sem qualquer dessas coisas. Ocorrerá sempre a possibilidade de que ele as invente outra vez, já que, conquanto sejam não-fatalistas, tais operações humanas estão relacionadas, todas, às interações humanas com seus semelhantes, consigo mesmo e com o mundo físico.

2. Assim, não há modelos para o homem. Um homem que não queira a arte, não é menos homem do que um homem que não queira a política ou a ciência. Por outro lado, se um homem gosta de arte popular, enquanto outro gosta de arte sofisticada, nem um nem outro gosto é "destino" - ambos constituem desdobramentos aleatórios de uma cultura, ambos se constituem como homem.

3. Se não entendemos isso, adoecemos, porque julgamos que ser homem é adaptar-se a determinado modelo, é fazer coisas que todos fazem, é gostar de coisas de que todos gostam. Mas não - é possível ser único, é possível ser excêntrico, é possível ser inatual. Só não é possível deixar de comer e beber. Ao menos não sem morrer por isso...







OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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