1. É o cair das folhas distantes, porque nossas árvores não se desfolham, não as de Mesquita, só as de bem longe, das tristezas de além mar e de além terra. É um despir-se que não prenuncia libido - um despir-se de campo de concentração, árvores humanas a pressentirem o frio que virá. Ou não, talvez seja a maturidade das anciãs, aprendendo o desapego oriental das espiritualidades solúveis. O fato é que as folhas caem, suicídio em massa, escamação acintosa das montanhas. Desfolhadas, ostentam o esqueleto, fincadas na terra, de pé. A árvore caduca é a paciência em pessoa. A árvore de outono é a mãe, a ensinar aos filhos que, mais três luas, e a neve cai, o frio vem, a morte espreita - livra-te, pequena, dos fardos da mocidade, que a velhice te espera logo ali... As árvores que brincaram o verão descem aos infernos, como Ishtar, despindo-se a cada um dos sete portais, numa encenação da morte... E, contudo, quisera morrer, assim, belas assim, como as árvores de outono...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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