1. Não comungo com Wellhausen a idéia de que a história judaica até o século VI a.C. tenha sido uma espécie de anti-Hegel, isto é, uma anti-evolução, iniciando-se na era de ouro da "profecia" e terminando de forma sombria e patética num sacerdotalismo político e espúrio... Quer dizer, aceito a tese de que os séculos VI e V - Jerusalém -, arregimenta o que de pior há em matéria de teocracia sacerdotal, de maniplação "platônica" (penso em A República, de Platão, lida por Marcel Detienne em A Invenção da Mitologia). Aliás, assumi como missão pessoal desmontar os dois séculos, pedra por pedra, eu e minha cavalaria Exegese. O trabalho está indo bem... Essa metade-de-tese de Wellhausen, ela eu assumo.
2. Eu não comungo é com a idealização do passado desse tempo. Idealização essa que trata como distintivos o pathos profético e o pathos sacerdotal. Já disse que a última mitologia a cair - e essa há de demorar, decerto - é a da "monolatria ético-profética". Mito puro... Moisés foi mais fácil derrubar, porque tem cara de "judeu". Mas esse mito da profecia ético-monolátrica, o Cristianismo - principalmente o de "esquerda", assenhoreou-se dele, e, aí, é duríssimo o trabalho de desconstruí-lo.
3. Penso nisso depois de ler o blog de um pastor "evangelical" (os evangelicais gostam de se distinguir de todo mundo: dos fundamentalistas, dos evangélicos, dos neo-pentecostais, dos católicos, de Deus, do diabo... são "singulares", eles dizem de si: digo deles o que seu "ídolo" disse de Barth e de Bultmann: Idade Média e hermenêutica pela metade). No blog, mais uma vez encontro a dicotomia - sacerdotes versus profetas. Sacerdotes são maus - profetas, bons. Sacerdotes são opressores, profetas, libertadores. Bah...
4. Deixem-me falar dos profetas em que eu acreditaria: se não ganham um centavo pelo seu trabalho - ou seja, se não são pagos para a profecia. Se não são pagos para os "brados" de justiça. Profetas profissionais, ah, que ironia! Se não é para Deus que trabalham. Se nem são trabalhadores do Reino. Se não sabem nada de doutrina, de liturgia, de Bíblia. Se não têm modos, jargões, trejeitos, manias, refrões, gestos, retóricas "proféticas".
5. Pastores evangélicos não são nem sacerdotes, nem profetas. São pastores. Não são reis, não são oráculos, não são profetas, não são sacerdotes. São uma paródia triste. Uma lamentável e anacrônica paródia triste. Lutero matou todos eles - e os que andam por aí, hora na pele de sacerdotes - argh! -, ora na pele de profetas - argh! - são embuste. Não há mais sacerdotes, nem profetas, nem nada que transpire o perfil oracular desde que Lutero pôs a Igreja dentro da Bíblia. O pastor ou é um homem que cuida de outros, ou não é nada.
6. Agora, ou sabem ler, ou não são mais nada. E não sabem ler! Aprenderam a ler com quem fazia alegoria - seus mestres são alegóricos! E se arvoram em profetas! Esqueceram a sintaxe, atropelam a história, assassinam a gramática - fazem anacronias estapafúrdias para manterem seu "Evangelho" - e se consideram... profetas! Bem sei... Nem decidir entre Tradição (Evangelho) e Bíblia sabem!... ("Querem"...).
7. Deixe-me dizer dos profetas em que acreditaria. Naquele que, indignado apenas pela face do oprimido, sem retóricas de Deus e do Diabo, sem pó-de-arroz na cara, sem maquiagem, sem bravatas, sem homilética, sem religião - e Bonhoeffer, meu caro pastor, que citas, não queria um Cristianismo a-religioso? -, pára seu caminho, ampara o fraco, denuncia o forte, sem ostentação, sem púlpito, sem banca.
8. Não gosto de sacerdotes. Não gosto de profetas. Não gosto de oráculos. Não gosto de pastores que se deixam fingir ser qualquer dessas coisas, ainda que disfarçadamente (são sutis), sorrateiramente (são astutos), dissimuladamente (são cínicos) - e como os há! Não os posso suportar, porque conheço o que são: pregadores de uma ética teológica embusteira, esgarçada há duzentos anos, podre na raiz, alienação escandalosa da consciência crítica, irreflexão e desonestidade. Evangelicalmente confeitada de retórica assalariada...
9. Todo homem que levantar a boca em nome de Deus, hoje, ou mente, ou erra. Se erra, que erre só. Se mente, canalha!
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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