quinta-feira, 5 de março de 2020

(2020/014) Jihad - sobre a manipulação do povo pelo medo e pelo ódio

Pode-se manipular um povo com um de dois instrumentos, e eventualmente, os dois: o medo e o ódio. Muitas vezes, o medo gera o ódio.

As elites ocidentais procuram manter suas posições por meio da rapina dos bens dos países menos preparados para enfrentar a máquina bélica e política que elas sustentam. Como grande parte das riquezas naturais mais facilmente convertidas em riqueza se encontra no Oriente Médio, e como o Oriente Médio é basicamente um mundo islâmico, o Islã é eleito como um demônio que deve ser vencido pelo justíssimo e puríssimo povo de Jesus Cristo...

Uma das ferramentas que as elites criminosas do ocidente usam para alavancar o medo e o ódio que eles desejam que a população mantenha dos muçulmanos, porque assim elas, as elites, podem promover assaltos, rapinas, genocídios, diante dos aplausos da massa, é apresentar todo muçulmano como praticante de jihad militar - todo muçulmano é um homem-bomba em potencial. Isso é uma descarada mentira.

Mas quero falar não dessa face da questão, mas da outra: a própria jihad. A jihad é uma prática especificamente islâmica? Não. Convido você a ler Salmo 149,6-9. Faça-se esse favor. Leia. No conjunto, trata-se de ordenar que os judeus - sim, os judeus da Bíblia - portem espadas nas mãos e cânticos de guerra e orações na boca. Louvor e espada, culto e guerra - guerra santa: jihad. Mas o texto vai mais longe. Para que a espada? Para a vingança contra as nações ímpias e pecadoras. O v. 9 é esclarecedor: "executar contra eles a sentença escrita, o que será honra para todos os seus santos". Ou seja, é uma honra para o fiel (hasid, de onde deriva a categoria dos hassidim) portar a espada para executar contra os ímpios a sentença - divina! - proferida contra eles. Isto é, nos termos do salmo, a divindade julgou as nações, elas foram consideradas pecadoras, sua condenação é a morte e o instrumento para a morte de suas populações é o judeu em jihad... Não, a jihad não é uma invenção dos muçulmanos, mas da própria Bíblia. Se ela é condenável, e nesses termos deve ser, é também condenável na Bíblia.

Salmo 149,6-9
Estejam na sua garganta os altos louvores de Deus, e espada de dois fios nas suas mãos,
Para tomarem vingança dos gentios, e darem repreensões aos povos;
Para prenderem os seus reis com cadeias, e os seus nobres com grilhões de ferro;
Para fazerem neles o juízo escrito; esta será a honra de todos os seus santos. Louvai ao Senhor.

O cristianismo praticou a jihad bastante. Não é o único caso, mas o mais emblemático é aquele contra os próprios muçulmanos - as Cruzadas. A chave para entender a jihad é a compreensão que o jihadista - judeu, cristão, muçulmano - tem de que está a mando de Deus. E, senhores, a mando de Deus se praticaram praticamente todas as barbaridades da História. Mas, convenhamos, a jihad não é uma invenção de cristãos e muçulmanos, mas um dado objetivo da própria Bíblia, que traduz a autocompreensão que os judeus tinham de sua prática político-religiosa em face das ocupações sucessivas de seu território após o cativeiro babilônico. Eu apostaria que o Salmo 149 é do período dos Macabeus...

Por que as elites são tão bem sucedidas em impôr o medo e o ódio aos muçulmanos nos arraiais cristãos? Porque a leitura que os cristãos fazem da Bíblia é não apenas ingênua, ideológica e bairrista, é política sempre. O que vale para uns, não vale para os outros. Além disso, o cristão é potencialmente incapaz de fazer crítica ética da Bíblia. É capaz de um cristão ler o Salmo acima, perceber honestamente tratar-se de jihad de fato e, nesse caso, porque está na Bíblia, considerar que, nesse caso, é de Deus, e, então, os santos têm mais é e que decapitar os pecadores... Mentes assim são fáceis de ser manipuladas, porque até assassinato, estupro e roubo, de cujas práticas se nutrem as elites, serão justificados em nome de Deus.

É preciso romper o processo de manipulação que as elites promovem nas massas, e também das pequenas elites eclesiásticas. Enquanto não rompermos o processo, estaremos, quer queiramos, quer não, vivendo em um mundo que nós mesmos construímos nos termos do modelo opressor das elites, e o deus ocidental será sempre um criminoso, como tem sido até hoje.






OSVALDO LUIZ RIBEIRO

Um comentário:

O Tempo Passa disse...

Olá, Osvaldo!!! É uma pena que eu passe tão pouco por aqui. Teus textos continuam afiados, ácidos e certeiros. Um abraço sem covid19!!!

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