terça-feira, 21 de janeiro de 2020

(2020/002) Conhecimento não vale de nada, se...

1. A meu ver, só é conhecimento de fato aquilo que entra no sangue do sujeito, que vai à veia e, daí, ao cérebro, ao corpo, à "alma"... Ouvir coisas, ler coisas, e não dar a elas as consequências devidas não é aprender coisa alguma, não é adquirir conhecimento algum, é apenas assistir a discursos, como quem vai ao teatro e esquece tudo...

2. É por isso que se engana profundamente quem acha que o conhecimento da humanidade encontra-se disponível a qualquer um - no Google. Bem, no sentido de uma feira-livre, em que todos os tipos de batatas sul-americanas podem ser adquiridas, vá lá, o Google é isso. Mas, considerando-se que (conforme aqui avalio) conhecimento é o dado transformado em informação e levado às suas implicações últimas, ter acesso ao Google não é, nem de longe, ter acesso a conhecimento. 

3. Lido há 30 anos com pessoas que em tese estudam Teologia. Não há lugar mais propício para adquirir conhecimento do que sala de aula, provavelmente. E, no entanto, sou testemunha que a esmagadora maioria, para não dizer a absolutamente quase totalidade dos alunos com que lidei esses 30 anos simplesmente não transforaram os dados a que tiveram acesso em conhecimento. E devo acrescentar: não apenas estudantes!

4. O que mudou neles o contato com os dados da Antropologia? Talvez alguma coisa periférica. Mas, radicalmente, nada. E o que foi alterado neles em razão do contato com os dados da Psicologia? A rigor, nada. O que diziam sobre seus sentimentos durante cultos religiosos é o mesmo que dizem hoje, depois do contato com os dados, de sorte que os dados da Psicologia, que deveriam dar a elas uma compreensão totalmente nova e radicalmente diferente da forma como interpretavam suas lágrimas em culto nunca resultou em verdadeiro conhecimento. Por quê? Porque não aprenderam nada, não assimilaram. Não permitiram que os dados evoluíssem para informação e, desde aí, alterassem a autocompreensão e a compreensão do mundo que o estudante tinha antes do acesso aos dados.

5. De que adianta um Google inteiro, se as pessoas não transformam os dados - bilhões deles - que vivem ali em informação, e se, pior ainda, não levam a sério as informações daí resultantes? Bem, a notícia ruim não é essa aparente inutilidade do Google. É outra. E pior. Quanto mais dados deixam de ser transformados em informação, e quanto mais informação é tangenciada e nunca levada às suas consequências óbvias, mais obliterada vai ficando a mente das pessoas, mais refratário ao conhecimento vai se tornando aquele corpo, mais bruta vai ficando aquela vida, até a completa estupidificação...

6. Entende porque é fácil ter tanta gente maluca falando em terra plana, mesmo com o Google...? 

7. Mas, se você acha que a pior coisa é o ignorante orgulhoso que fala entusiasmado em terra plana está enganado. Em pior estado encontra-se aquele que teve todos os dados nas mãos, mas ainda acha que ele chora no culto por força do Espírito Santo, enquanto é o diabo quem faz os hereges chorarem em suas seitas... Esse, sim, vive no inferno e não sabe. O da terra plana é só um paspalho besta.






OSVALDO LUIZ RIBEIRO

Um comentário:

Prof. Lair disse...

A questão, portanto, não é o ensino, mas a aprendizagem? As pessoas deveriam ser ensinadas a aprender sobre como aprender.

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