Acho que o pronome possessivo nasceu com o poder - em algum momento da história, criamos a ideia - e a prática social - de dizer: "isso é meu". Hoje, o Ocidente inteiro funciona com base nessa máxima - isso é meu, e os três últimos séculos colocaram a propriedade (privada) acima de tudo e todos - o que revela que se trata, afinal de contas, de uma questão de poder, e nada mais do que isso...
De meu, mesmo, que eu possa chamar de meu, tenho o quê? Se "meu" é algo que eu possa manter, não tenho nada.
Meu corpo não é meu, não o posso manter: é ele, em uma relação complexa, com esse que me chamo "eu", que me mantém, conquanto eu deva mantê-lo, igualmente. Mas podem prendê-lo, maltratá-lo, feri-lo - não o posso garantir...
Meu amor, Bel, não é "meu" - não é minha... Se quer, se vai, inexoravelmente - e, acreditem, se quer, se vai, bem a conheço...
Meu trabalho? Não é meu - é de alguém, que paga por ele.
Minha consciência? Se me drogam, ela desaparece, some, evapora - morro vivo...
Não há nada que eu possa chamar de meu... No fundo, eu só posso usar as coisas, usufruir, e, ainda assim, quando estão dadas as condições histórico-sociais para isso...
Nascera eu há alguns anos, e sequer vivo eu estaria...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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