Osvaldo, como eu devo ler as narrativas do Antigo Testamento?
De preferência com os olhos - o cérebro se encarregará do resto...
Não, sério: diga-me como lê-lo.
Por que eu o faria? Leia como quiser...
Não, Osvaldo, por favor, eu quero ler certo...
Ler certo?
Sim...
E o que acha que é ler certo?
Como assim o que eu acho que é ler certo?
Ler certo depende de sua intenção...
Relativismo...
Não: pragmática.
Explique-me...
Fácil. Se você quer entender historicamente o livro, é uma coisa. Se você quer se deliciar subjetivamente com a leitura, é outra coisa. E, se você quer usar a narrativa para intervir no mundo e na vida das pessoas, também é outra coisa. Você pode ler o texto heuristicamente, esteticamente e/ou politicamente - são todas, formas legítimas de ler o texto e, todavia, são formas completamente diferentes...
Hum...
Primeiro, decida-se sobre o que quer com esses textos... Quer compreendê-los? Quer gozá-los? Que usá-los?
Entendi. E depois?
Depois, descubra os diversos modos com que cada uma dessas pragmáticas pode ser alcançada e decida-se... Agora, nunca caia na situação ridícula de optar por usar esses textos e produzir um discurso que retoricamente parece ter optado por compreendê-lo historicamente. Usar esses textos não tem nenhuma relação direta e necessária com a sua adequada compreensão histórica - e é por isso que tanto o uso de direita quanto o uso de esquerda aborrecem-se com as pesquisas históricas: porque são usos, instrumentalização, mais valia, apropriação, mas querem se vender como compreensão. E, quando não conseguem, negam a compreensão histórica, como pequena vingança infantil...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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