Inventamos algo tremendamente mais perigoso do que a autonomia em face da religião: inventamos a democracia, o Estado Democrático de Direito, a sociedade plural...
Perto disso, a justificativa de manter as pessoas presas à heteronomia religiosa passa a ser de interesse corporativo de quem vive disso - não é mais uma questão civilizatória.
Até o século XIX, antes do surgimento recentíssimo dos Estados Democráticos de Direito, a religião era usada pelo governos para, pondo medo nas pessoas - do inferno, do purgatório -, mantê-las sob controle do Estado/Igreja.
Um concurso de monografia do século XVIII, não me recordo, perguntava se era lícito mentir ao povo em nome de Deus, e ganhou uma que dizia que sim, desde que para o bem público, e argumentava o vencedor que, se seus empregados não acreditassem no inferno, ele acordaria sem cabeça...
Logo, entendo que até Voltaire achasse que os homens da política tinham que ser teístas: eram dias de manter as pessoas com medo, bem comportadas, sob controle.
Mas abrimos a caixa de pandora quando criamos a democracia, quando escrevemos os Direitos Universais do Homem (e da Mulher), quando passamos a considerar que é o povo quem deve governar...
Nesse contexto, a religião não precisa mais ser usada para manter as pessoas com medo, presas a mitologias que foram criadas para gerar medo e controle social. Salvo, claro, se isso ajuda não a sociedade como um todo, mas a uma corporação que vive disso.
Para a sociedade como um todo, que é o que me interessa, necessitamos de uma população consciente, crítica, que se saiba acima da religião, como acima dela se puseram, até hoje, os homens de poder, dentro e fora dela.
Educação crítica.
Sem negociações.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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