Quando o mal disfarça-se em bem, e pior, disfarça-se em bem que se disfarça em alta filosofia, as consequências são terríveis. Disfarçado em bem e em filosofia, o mal encanta a todos - leigos religiosos e eruditos religiosos: uns, pela fé, outros, pela beleza da coisa toda, pela obviedade do conceito... E o mal impera...
Não conheço caso mais modelar, me mesmo caso mais terrível do que o monoteísmo - de todas as ideias religiosas que inventamos, essa, sem nenhuma dúvida, é a mais terrível: disfarça-se em bem e em inteligência filosófica - mas é um mal sutil e violento. Sutil, posto que disfarçado em Bem e Ser - violento, posto que exige a morte de todos os outros deuses, e, com eles, os seus fiéis.
O politeísmo, ao menos, é tolerante. Epistemologicamente, tem as mesmas características que o monoteísmo, mas suas implicações éticas são melhores: cada um tenha seu deus e viva a sua vida.
Já o monoteísmo, não: é um vírus terrível. O crente, por melhor pessoa que seja, torna-se uma besta-fera, que só a muito custo segura-se diante de outros religiosos - porque, dentro dele, todas as suas células lhe ordenam a que os condene e os obrigue a aceitar a sua própria fé.
Para se ser cristão e, ao mesmo tempo, uma pessoa ética, tem-se que fazer uma força horrível contra si mesmo.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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