segunda-feira, 13 de maio de 2013

(2013/513) O artigo completo sobre Ct 7,10 versus Gn 3,16 está para sair pela EST - por ora, um aperitivo

Gn 3,16 diz que o desejo da mulher é para o homem dela e ele a domina. Isso se põe ali como um fato divino.

Na história judaico-cristã, 99,99% das pessoas ouviram isso como fato divino.

No final de Cântico dos Cânticos, a escritora (gosto de pensar nela como uma mulher) repete Gn 3,16, mas o subverte em dois sentidos. Dois.

Primeiro, faz a amada rebolar para o amado e, de quatro, uivar para ela, babando de desejo - e, então, a amada inverte Gn 3,16: o desejo dele é para mim.

Primeira lição: se ela o deseja, e deseja, também ele a deseja - e olha ele ali, de quatro, babando... Gn 3,16 usa o desejo da mulher para controlar a mulher, mas esconde que desejo é coisa humana, dá em homem e em mulher, e que os sacerdotes só negativaram o feminino porque queriam castrar as mulheres... A autora sabe disso: põe o dedo na fuça do homem das doze pedras...

Segundo, em Gn 3,16, porque ela o deseja, seu homem a domina. A escritora de Cântico dos Cânticos revela que ele a deseja, mas, em lugar de o dominar a partir do desejo dele, convida-o a retornar... ao jardim.

Segunda lição: quem se serve das injunções da religião e do templo como desculpa para sua maldade interna é covarde e canalha. Assim como ela, diante do desejo dele, pode tratá-lo com fraternidade e amor, ele, diante do desejo dela, mesmo que Deus mandasse!, poderia tratá-la sem domínio...

Mas por que ele a domina?

Porque ele é duas vezes mais canalha que o sacerdote que lhe deu a justificativa divina...





OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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