sexta-feira, 5 de abril de 2013

(2013/395) Aos futuros teólogos em formação


1. Dou aulas de Teologia há 20 anos - em 2013 faço exatos 20 anos de cátedra teológica. Comecei no Campus Avançado de Nova Iguaçu, do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, em 1993, depois de ter estudo lá mesmo, de 87 a 92. 

2. Entrei fundamentalista e intolerante - educado, minha avó e minha mãe me fizeram educado, mas intolerante: você tinha que ser batista, e da Primeira, ou não mereceria minha consideração... E saí, já da formação, em 1992, crítico. Não foi nenhum outro curso que me formou - formei-me ali, entre livros, professores, professoras e colegas de teologia...

3. Tive a sorte de tornar-me um crítico antes de tornar-me professor. Obviamente que meu grau de crítica aprofundou-se com o tempo, porque a sua capacidade crítica depende, muito, de seu grau de informação, de seu "treinamento", de sua experiência. Quando eu me olho em 1993, já um crítico, penso que, sob os critérios de hoje, eu era um crente crítico-progressista, mas estava, ainda, longe, de uma visão mais profunda das questões.

4. Isso se deu com a caminhada e, fundamentalmente, depois de meu encontro com Haroldo Reimer, que, todavia, não tem nenhuma responsabilidade sobre nada que digo, faço ou escrevo. É apenas o melhor professor que já tive na vida - o que não é pouca coisa.

5. Hoje, o que eu diria aos estudantes de Teologia?

6. Que estudem. Considerem-se formandos. Não tomem posições extremadas em pleno período de formação. Não tomem partido. Não se apressem. Não digam nada nem escrevam nada do que vão se arrepender amanhã...

7. Dê tempo ao tempo, mas, acima de tudo, leia os bons livros, os livros técnicos. Leia os confessionais, também - li todos os livros de Hermenêutica conservadores de minha época: todos! Leia tudo. Mas não se apresse a dizer coisas - você está em formação...

8. Na Igreja, contenha-se. Não faça "papel". Não assuma máscaras. Confesse-se em formação. Reconheça-se em formação...

9. Amanhã, depois de um longo período de hesitação, vai se "assumir", reconhecendo-se em determinada forma de pensar e fazer teológicos. Fico pensando a vergonha que você sentirá de você mesmo por ter dito coisas, escrito coisas, feito coisas, em nome de uma teologia que não dominava, não entendia, à qual apenas se entregava de modo acrítico e massificado...

10. Se você se tornar um crítico e, mais tarde, descobrir a verdade, e ela for confessional, há espaço para arrependimento e confissão de pecados...

11. Mas se você se faz um teólogo tradicional e faz todas as coisas tradicionais por uns bons vinte anos, um dia, quando tornar-se crítico, terá maus momentos ao espelho...

12. Um deles: ter usado Deus o tempo todo para fazer-se crido...

13. Eu me vi vítima dessa forma de vida teológica de 1984 até algum momento de 1989, quando se dá minha "virada" crítica no Seminário, mas, felizmente, tornei-me crítico antes de me formar e dirigi toda minha "carreira" nessa perspectiva. Fico me imaginando ao contrário: ter tido uma história tradicional, de dizer coisas em nome de Deus, a partir de Deus, na garantia de Deus e, súbito, deparar-me com a condição antropológica, face a face... Deve haver noites de angustiante insônia...

14. Bem, há tempo para vocês evitarem esse destino...

15. Se quiserem...





OSVALDO LUIZ RIBEIRO

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Sobre ombros de gigantes


 

Arquivos de Peroratio