(clique na imagem e imagine o estado dos primeiros Homo sapiens diante dessa visão terrível)
2. Imagine o terror de que os homens, as mulheres, as crianças, os anciãos, os animais, tudo e todos eram tomados!
3. Fenômenos dessa natureza foram interpretados como manifestações - iradas! - de forças vivas. Nasceram os deuses, concebidos pelo coito entre a Natureza e o Homo sapiens...
4. Por milhares e milhares de anos, esses fenômenos retro-alimentaram a religião - cada chuva, cada tempestade, cada erupção vulcânica, cada relâmpago, cada trovão, cada tsunami, cada terremoto, cada vendaval, cada furacão, cada tufão, cada tornado, cada enchente - era o reforço inescapável da religião, uma dose a mais de encantamento, medo e piedade...
5. No intuito de domar a Natureza, todavia, os homens, para viver e sobreviver, se forçaram a observá-la, compreendê-la, entendê-la. Há menos de quatrocentos anos (Empirismo), um a um, todos os segredos e mistérios do planeta foram sendo definitivamente desvendados - e finalmente o homem compreendeu do que se tratava: não eram deuses, nunca foram os deuses - eram e são fenômenos naturais, resultado da relação complexa entre os constituintes ecossistêmicos da Terra...
6. Súbito, o mundo esvaziou-se dos deuses...
7. Faltava a Filosofia e seu fetiche pelo Uno grego - e, na virada do século XVIII para o XIX (Kant), também ela deu sua contribuição para o esvaziamento da Natureza, para sua redução ao natural, ao físico, ao ecossistêmico...
8. A religião foi empurrada para dentro das pessoas (Schleirmacher) - ali dentro, a religião encontrou refúgio, e a última tentativa ainda científica de manutenção da plataforma teológica empreendeu-se: a Teologia Liberal. Era fé, sobretudo, como todas as teologias até agora - fé. Mas tentava encontrar uma forma de conciliar-se com a nova rainha, a Ciência - e o único reduto que a ciência não desmontara era exatamente o interior do homem. Para ali dentro, então, ela se transportou, segura...
9. Todavia, na virada do século XIX para o XX, a Psicologia deu conta de abrir esse último reduto, e de revelar, pedaço a pedaço, os territórios de sonho que habitam a alma humana... Não há mais espaço para a religião no mundo dos homens: somente ali, onde os homens impedem que as ciências entrem, que o Sol varra com seus raios. É verdade que somente agora se fazem os esforços - possíveis - para filmar a própria alma (Ciências Cognitivas) - mas, no fundo, já se sabe a resposta...
10. Sem lugar no campo do conhecimento humano do mundo, abrem-se para a religião apenas dois caminhos: a) um, estético, em que a religião é compreendida como mito pessoal, como enredo fantástico para a vida - para quem eventualmente ainda precise de enredos fantásticos para a vida; e b) outro, a auto-mentira, negar para si mesmo que a Natureza é "natural", negar que o medo é mamífero e negar que o sentimento é reativo, e tratar os mitos como "realidade" - alienação.
11. No século XX, na forma de experiências estéticas, a religião já se converteu em inúmeras outras manifestações humanas - a arte propriamente dita, a música, o esporte, o solipsismo místico, o cinema...
12. Naquela porção antiga da religião, que se trata, ainda, como há 20.000, ali os homens e as mulheres ainda não experimentaram a compreensão possível disponibilizada pela espécie, de modo que o medo, o mito inconsciente de sua condição de mito e o aprisionamento psicológico-dogmático manifestam-se como desde o início e ainda funcionam como retro-alimentadores dessa experiência ancestral.
13. Até quando? Até que o conjunto da humanidade passe, todo ele, pela superação do modo pré-moderno de relação com o planeta. Ainda vai demorar... Todavia, um dia fomos coletores/caçadores. No outro, éramos cultivadores/pecuaristas. Depois, homens e mulheres das cidades...
14. O que quero dizer com isso? Que a marcha da espécie é inexorável. Parece-nos demorado, mas, para a evolução, nunca o planeta testemunhou transformações tão rápidas - o Homo sapiens permitiu à Vida experimentar em séculos os saltos que ela demorava milhões de anos para dar.
15. Não é coisa para você e eu testemunharmos, mas não passará muito deste milênio.
16. Nada mau para quem saltava de árvore em árvore, há seis ou sete milhões de anos atrás...
OSVALDO LUIZ RIBBEIRO
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