domingo, 10 de março de 2013

(2013/223) Sobre malditos e maldições bíblicas na boca da boa gente cristã


1. Ele merece, é verdade, mas estão crucificando o pobre do pastor político, presidente de comissão, pelo fato de ele dizer o que, por exemplo, os batistas do sul dos Estados Unidos ensinam na EBD desde, pelo menos, a época da escravidão - que os pretos escravos são filhos de Cão e malditos: logo, podem sofrer na mão dos servos de Jesus...

2. Para o crucificar, coitado, colocam citações de Hitler ao lado de citações homiléticas e pias dele. Dizem que Hitler entendia que estava prestando um serviço a Deus livrando-os da maldição dos judeus, assassinos de seu Filho...

3. Deixa eu ver se eu entendi: se o sujeito pega um texto bíblico que, a despeito da controvérsia, é real - Noé amaldiçoa Cão -, é de mau gosto?

4. Um momento, por favor. Se, em lugar de eu dizer que são os pretos, que os descendentes de Cão são os cananeus - e com isso justificar o genocídio que Deus patrocinou, dizimando toda a população de Canaã, aí a história fica boa? Mesmo que essa história tenha servido de modelo para outros genocídios ainda maiores? Por exemplo, África do Sul e Estados Unidos, brancos assassinando, em nome de mitos e maldições, negros e índios?

5. Bem, se é para jogarmos essas maldições todas da Bíblia na lata do lixo - e acho que temos que jogar fora mesmo - que tal começarmos pela primeira: Gênesis 3? Que tal considerarmos esse texto, ele sim, um texto maldito e o apagarmos de nossa tradição?

6. Sim, porque se o pastor de Brasília diz que os pretos são malditos, nós, bons evangélicos, dizemos, todos os dias, que todos os homens o são - e por que maldita hermenêutica isso faz de nós homens melhores do que ele?





OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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