quarta-feira, 14 de novembro de 2012

(2012/770) A necessária separação entre canalhas e bem-intencionados - só vale para canalhas e bem-intencionados


1. Acho que ninguém discordaria de mim se eu dissesse - e digo - que a liderança evangélica, de modo geral, se tomada como uma categoria acima da massa evangélica - encontra-se marcada pela presença de gente má-intencionada, de canalhas, aproveitadores da boa fé ingênua dos religiosos do rebanho...

2. Acho que também ninguém discordaria de mim se eu dissesse - e digo - que, a despeito de grassar a canalha humana nos postos de liderança da massa evangélica, há, todavia, e talvez não poucas, gente boa, bem-intencionada, honesta, sincera...

3. Se conseguíssemos uma foto de toda a liderança de toda a massa evangélica, ela seria uma foto de canalhas e de gente sincera. Seria mesmo como a foto da própria massa evangélica. Seria mesmo como a foto da sociedade brasileira. Seria mesmo como a foto da Humanidade: canalhas e gente boa...

4. Todavia...

5. A "sinceridade" é salvo-conduto para alguma coisa? Não, não é. A "sinceridade" é uma característica do sujeito, mas ela não interdita nenhuma ação que tenha conseqüências deletérias e más. Ser "sincero" não imuniza ninguém de fazer a coisa errada.

6. Um juiz pode ser honesto, sincero, pode estar carregado do maior senso de Direito, Deve e Justiça, mas, ainda assim, condenar o inocente e pôr a perder uma vida. 

7. Um policial pode agir no estrito cumprimento do dever e, todavia, pôr a perder uma vida inocente...

8. Um médico pode agir com toda perícia e sinceridade e, ainda assim, errar...

9. Sinceridade não é salvo-conduto...

10. Pastores e teólogos reagem, sempre, apelando para sua sinceridade, seu senso de "serviço a Deus", suas boníssimas intenções cristãs,  para resguardarem-se das críticas que, para eles, os canalhas merecem, mas não eles, gente de bem e bem intencionada...

11. Tomando-se como centro do mundo e tomando sua sinceridade como salvo-conduto, praticam seu "evangelho" conservador e reacionário, em nome de Deus, como se isso fosse a expressão da vontade do próprio Deus...

12. Se a massa evangélica se deteriora, se a tradição evangélica apodrece, isso nada tem a ver com ele, ele diz, porque ele é... sincero...

13. No inferno, senhores, haverá 9 sinceros para cada canalha confesso...

14. E acho que o inferno evangélico em que vivemos é culpa muito mais de 9 sinceros bons pastores do que de um canalha confesso...

15. Quando se julga que a própria ideia de como as coisas devem ser é a ideia que Deus tem de como as coisas devem ser, a sinceridade é o único salvo-conduto que sobra, quando o jundo desaba. O mundo evangélico desaba em nossa cabeça, e os santos sinceros só sabem repetir esse mantra psicológico...





OSVALDO LUIZ RIBEIRO

Um comentário:

Anônimo disse...

Você tem razão quando diz que sinceridade não é salvo-conduto.
Levando em conta que o salvo-conduto é uma especie de autorização para se fazer algo que, em condições normais, não se poderia fazer, parece-me que quem se vale dele já sabe exatamente a natureza do ato que está praticando.
Assim, entre as duas categorias que você assinalou, somente os canalhas se valeriam da "sinceridade" como salvo-conduto.
Por outro lado, se as circunstâncias que envolvem o erro do juiz, do policial ou do médico citados na postagem forem tais que, de fato, caracterizarem uma excludente de ilicitude, eles são inocentados da sua conduta.
Então, com a devida venia, não tenho certeza sobre a exatidão da proporção de ocupação do inferno entre canalhas e bem-intencionados.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Sobre ombros de gigantes


 

Arquivos de Peroratio