1. É curioso como minha relação com um "pastor" é sempre problemática:
2. a) se ele conversa comigo, como se conversasse com seus fiéis, logo percebe que não dá - eu sei que tudo que ele diz o diz por conta própria, ainda que apele para Deus, Jesus, Espírito Santo, Bíblia...
3. b) se ele conversa comigo, tratando-me com um sujeito autônomo, que pensa com a própria cabeça, e que o ouve como quem fala de si mesmo, vem à tona o fato de que não trata assim seus fiéis...
4. Juro que não faço por mal.
5. Mas as coisas são como são.
6. Acho que essa situação deriva do fato de que nossa educação teológica tem base numa Europa que passou pelo século XVII inglês, Iluminismo, pelo Romantismo, pelo século XIX e pelo século XX, ao passo que nossa religiosidade, não, é de uma Europa que ainda se encontra na luz de oliva, em plena era feudal...
7. A prática pastoral, com raras exceções, se dá como que na Idade Média, ao passo que nossas relações teológicas estão um bocado mais bem informadas...
8. Não há como não criarmos uma sociedade esquizofrênica...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
Um comentário:
Osvaldo,
quando você se refere à educação teológica que “passou pelo século XVII inglês, Iluminismo, pelo Romantismo, pelo século XIX e pelo século XX” e a opõe a uma religiosidade que você afirma ainda se encontrar “na luz de oliva, em plena era feudal” e “como que na Idade Média”, diagnosticando, a partir daí, a esquizofrenia da sociedade, você não acaba passando ao largo da teologia que, ainda que no seu peculiar entendimento, se educou aos pés do Senhor, que se negou a abandonar por onde passava a submissão ao Senhor e que se nega a fazê-lo ainda hoje, quando os frutos do século XVII inglês, do Iluminismo, do Romantismo, do século XIX e do século XX ainda lhe sugerem o abandono da heteronomia, que é o senhorio de Deus?
Por outro lado, afirmar que se sabe que “tudo o que ele [o pastor] diz o diz por conta própria”, e que ele “fala de si mesmo”, não seria um contrassenso epistemológico, já que o crente afirmar que sabe que o que diz vem de Deus teria o mesmo status epistemológico, a partir mesmo do Kant da primeira crítica?
Não haveria, portanto, esquizofrenia a partir da assunção da religiosidade “na luz de oliva” ao lado da teologia que ‘sobreviveu incólume’ àqueles movimentos do pensamento ocidental, ambas heterônomas, fundamentando a vida de homens heterônomos, que não querem – e podem não querê-lo num Estado Democrático de Direito - pensar “com a própria cabeça” se isso significar ir-se do Senhor.
Um grande abraço!
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