1. O homem - ser genérico peniano - é peniano. Ainda é. Numa roda de homens, não se fala de sexo, se fala de sexo peniano, coito, penetração. O homem ainda é um pênis carregado por um corpo que se julga "si", mas é coisa - faz-se em função da coisa que é ele mesmo: o pênis...
2. Isso posto, para o homem, a sexualidade reduz-se a pênis. Não importa onde ele vai enfiar isso - é o pênis. Invente-se a coisa que vai receber o pênis - mas não se mude o fato de que é falo, pênis - ereto, que, flácido, não existe.
3. Sim, é paupérrima essa sexualidade - prepotente, pré-potente, reduz-se a um mecanismo biológico de penetração e deterioração da virilidade em flacidez de descanso e morte... Paupérrima...
4. A mulher - ser genérico de vagina - está, ainda, a tentar descobrir-se, porque esteve há milênios - e ainda está - sem identidade cultural acatada: era coisa, acessório, como ainda é em muitas culturas. No Ocidente, o conceito de subjetividade trouxe à luz o projeto - novo - de subjetivação (tornar-se sujeito) também para as mulheres. Demorou 300 anos - foi preciso expulsar Deus da sociedade (!), e, com o advento das Repúblicas, tornaram-se sujeitos...
5. Cedo demais, 200 anos, para que a sexualidade feminina se apresente como modelo genérico. A do homem genérico moldou-se em milênios - comer, comer, comer, penetrar, penetrar, penetrar, estuprar, estuprar, estuprar, de modo que a subjetividade masculina é fálica por "natureza" e cultura... A mulher, está ainda em vias de revelar-se...
6. Será, sempre, puta, para o homem. Enganam-se as modernas. Para o homem-pênis, a sua será santa e todas as outras, putas. A mulher do amigo só é a mulher do amigo na frente do amigo, mas, para a mente do homem-pênis, até essa é um buraco... dois... dois, não, três...
7. Mulher é, para o homem-pênis, buraco... Acham-se, os homens-pênis! Mas eu imagino a frustração que causam para suas mulheres e até para prostitutas, que vêem neles seres deformados, necessitados... Mas úteis...
8. Não quero dizer que a sexualidade masculina não passe pelo pênis - quero apenas dizer que a sexualidade transcende o pênis: não é apenas ação mecânica de coito, também o é, seja na forma em que se apresentar, mas é, sobretudo, experiência sensorial, de sentidos, de ver, de tocar, de cheirar, de provar, de ouvir, é experiência de todo um corpo em outro corpo inteiro, muito mais do que experiência de um pênis numa vagina...
9. Por isso, senhores e senhoras, dada essa deformação da identidade sexual masculina, acho muito difícil que a questão homoafetiva seja compreendida, porque o homem-pênis reduzirá essa experiência àquilo que é a única experiência sexual para esse homem-pênis - o coito. Em se tratando de homossexualidade masculina, sexo anal. Logo, o sexo anal é a homoafetividade caricaturada, porque reduzida a homoafetividade ao elemento a que a própria sexualidade masculina está, ela mesma, reduzida - coito...
10. O homem-pênis não pode compreender o significado erótico/sexual da homoafetividade, porque ele não pode se compreender para além do falo - de modo que reduz o outro a falo, seu concorrente, e a ânus, buraco, a caricatura de uma sexualidade inteira...
11. No fundo, o homem-pênis é vítima de si, de sua cultura, de sua educação, de suas conversas que retroalimentam sua deficiência de gênero - e, nesses termos, projeta-se na relação homoafetiva, reduzinda-a, porque ele mesmo é e vive reduzido...
12. Tese aqui defendida: toda reação de "nojo" à relação homoafetiva terá origem numa sexualidade reduzida a coito; nas consciências que transcendem a sexualidade para além do mero coito, que a tratam como jogo profundo de corpos, não há qualquer incompreensão da experiência homoafetiva...
13. Naturalmente que não vamos, aqui, idealizar os homossexuais. Da mesma forma que há reduções de sexualidade masculina - o homem-pênis - é natural que a sociedade produza relações homossexuais a isso reduzidas, porque são homens produzidos pela sociedade do homem-pênis... Não estou idealizando o homem homossexual... Há igualmente o homem-homossexual-pênis.
14. Estou apenas dizendo que a redução da homoafetividade a sexo anal é fruto psicológico-cultural da redução da própria sexualidade masculina ao pênis.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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