1. Alguém me pergunta, entre, sei lá, curioso e indignado: "Osvaldo, se você só sabe fazer críticas, porque raios ainda lida com Teologia"?
2. Bem, a resposta é simples, e tem algumas variações.
3. Primeiro: porque gosto, adoro teologia. O fato de eu tê-la desmontado e estar a tentar refazê-la como outra coisa, diferente do que ela foi até aqui não significa que não esteja ligado umbilicalmente a ela. A Teologia, para mim, está caduca, obsoleta, anacrônica e equivocada - mas acho que ela pode transformar-se em algo moderno e atual, significativo e útil. A metalurgia sagrada virou alquimia que virou química - que ensinamos na escola. A teologia pode virar algo necessário para nossa época... É minha aposta e meu engajamento.
4. Segundo: desde 1999 que a Teologia é uma disciplina do Sistema Federal de Ensino. Uma confusão dos infernos, é verdade, porque os pastores-teólogos querem uma teologia confessional - contra a qual eu luto programaticamente -, enquanto os educadores do MEC pensam em algo mais universitário. Assim, para muita gente, teologia continua a ser catequese de luxo; para alguns, uma espécie de discurso crítico, mas com a mesma estrutura política de antes: já, para mim, ele deve tornar-se uma câmara transdisciplinar para as pesquisas em torno do "sagrado". Se é que isso é viável. Se não for, ela morre e eu sigo fazendo a mesma coisa, com outro nome...
5. Terceiro: grande parte dos discursos de controle social e de manipulação de massa, dentro e fora da política, dá-se por meio do controle dos mitos religiosos - de Deus ao diabo. Denunciar isso, contra quem quer que seja, é uma força legítima de aprofundar as questões pertinentes à necessidade de cidadania crítica num estado laico. A alienação teológico-religiosa das pessoas religiosas só aparentemente é "boa" - quando são bovinas as atitudes... Mas elas guardam argolas de controle enfiadas aos narizes de cada crente, e será que, quem aí amarrar cordas de rebanho, as arrastará para cá e para lá, com o risco de me levar, por força de leis manipuladas, para sua loucura de fé.
6. Bem se vê, tenho minhas razões.
7. Desmontar todos os dogmas até que compreendamos, definitivamente, que os dogmas são invenções humanas para controle social - e, ao fim e ao cabo, propor uma cidadania crítica consciente e baseada no jogo democrático do Estado de Direito, com inclusão social e respeito às minorias. Não é necessário "deus" algum para isso. Pelo contrário. E as Repúblicas somente ainda se servem desses símbolos justamente porque as massas que entram em seus territórios ainda funcionam por meio deles - e, lamentavelmente, somente por meio deles.
8. Mas há amigos meus que ainda acham que a religião promove cidadania.
9. Acho que não. Nelas, dorme a demência, latente. Achamos o balido calmo das ovelhas um bom estado de coisas - mas é mera aparência: os espíritos religiosos são guiados por Deus, sempre, e Deus é sempre um poder sobre elas... de modo que quem controlar Deus as controlará. E também para a morte.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
4 comentários:
Tenho dificuldade com a definição de dogma como sendo "invenção humana para controle social", a menos que tal dogma seja aquele (re)elaborado pela igreja e concebido como não passível de revisão ou reelaboração. A religião é, num primeiro momento, ópio do povo; depois, ópio para o povo.
Não entendi, Jones.
Por exemplo, determinado grupo passa a crer, talvez a partir da observação de uma planta que renasce, na ressurreição do corpo. Nas mãos do sacerdote esse "dogma" (ideia, crença) vira dogma (caráter rígido). Penso que "invenção" não seria um termo adequado para o primeiro, mas talvez para o segundo. Não seria este o mesmo caminho percorrido pela religião? Ela é ópio DO povo (brota como elemento da natureza humana) e depois PARA o povo (torna-se instrumento de manipulação e alienação).
Jones, no primeiro caso, não é dogma, é doxa. Dogma é doxa tornada lei pelo poder. E o poder o faz para controle. Assim, é certo que algumas doxas tornam-se dogmas, outros dogmas são inventados do nada. Mas dogma é poder. E poder quer controle. E o tem. Até certo ponto.
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