sábado, 23 de junho de 2012

(2012/501) Sem luta, não vai


1. O "case" de Marx foram as fábricas cristãs inglesas. Lá, ele evidenciou a relação incestuosa entre religião e opressão - e, diante de meninos e meninas de 10 anos, trabalhando, durante a semana de seis dias, 16 horas por sia e, domingo, levados à missa, agradecendo a Deus, escreveu seu irretocável comentário sobre a religião: é ópio.

2. [Bem, seja Lexotan, seja Prozac, isto é, seja usada pela direita (ópio), seja usada pela esquerda (cafeína), a religião é alucinógena: faz agir não com base na vida mesma, mas com base em mitos tratados como realidades - seja qual for a religião, sem exceção. Por isso, ainda que tendo de inverter também o pólo da declaração de Marx, ela é, contudo e a despeito disso, irretocável].

3. De lá para cá, surgiram os movimentos operários, os sindicatos - que, a despeito da corrupção política que grassa dentro deles e por meio deles, ruim com eles, pior sem eles. Foi a luta incessante, incansável deles, que levaram a relativa melhor condição de trabalho de hoje - onde seus efeitos se fizeram sentir.

4. Os patrões não gostam. Um, me dizia há três semanas, que sua até então excelente empregada, crente, que trabalhava além do necessário, era zelosa e eficiente, agora que fazia Sociologia e conheceu Marx, começou a reclamar das condições de trabalho! (micro-caso "Marx" na veia!). Patrão, se puder pagar menos por mais, é o que quer. E acha legítimo que ande de Fusion, ao passo que os empregados andam de ônibus lotado. Acha mesmo que é a ordem divina das coisas, como queria Lutero, diante dos camponeses: uns para ter, outros para não ter, uns para mandar, outros para obedecer, suas bestas!

5. Os que vivem dos patrões também não gostam: a mídia. Nunca toma o partido dos empregados - nunca! Sempre defendem os patrões, a despeito das "comoventes" reportagens de "trabalho escravo". Um cinismo digno do Oscar...

6. Todos os anos, você ouve a lenga-lenga: flexibilização das relações de trabalho - nome pomposo. Mas pode chamar de "tirar o pouco que o trabalhador já tem", que é o que o jogo é.

7. Cinismo e canalhice. E você vê na sua TV, com as Bernardes e Poetas da vida a dizerem-no com dez quilos de pó na cara...

(...)

8. Por isso, aplicando a mesma situação à luta homoafetiva, eu diria que lutem, lutem, lutem. Enfrentem quem vocês tiverem de enfrentar, principalmente os santarrões de meia-tigela da fé, os campeões da hipocrisia, as bancadas evangélicas ocas de qualquer valor, enfrentem, não desanimem. Se não for com luta, não vai.

9. Lutar não garante a vitória. Mas não lutar é a certeza de fazer-se objeto na mão dos cínicos.

10. Lutar. Não há outro jeito.




OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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