sexta-feira, 20 de março de 2020

(2020/033) Não me surpreende o sucesso das teses pós-modernas

A despeito do risco de generalização, que não implicaria necessariamente em equívoco, já que o que eu aqui direi pode eventualmente servir para muitas áreas, de sorte que aplique-se o que adiante se ler apenas ao campo da Teologia e das "Ciências das Religiões", gostaria de propor uma "tese": o sucesso das teses pós-modernas se dá ao fato de que aplicar o conhecimento derivados das Humanidades de modo geral à Teologia (e, indiretamente, ás Ciências das Religiões) é um desafio que está para além das forças (e da vontade) dos teólogos, das teólogas e de muitos (a maioria?, todos?, todas?) os e as cientistas das religiões.

É apenas uma tese. Como tese, como toda tese, pode estar errada. Sua aprovação depende da banca. Já sua procedência depende mesmo é dos fatos. E os fatos, se posso avaliar por meio do que vi e vejo nesses quase 30 anos de carreira na área, mais de 30, se eu contar também a formação, e não o exercício profissional da carreira, apenas, teólogos e teólogas não aplicam a si mesmos, à sua tradição, á sua fé, à sua própria experiência religiosa, os conteúdos apreendidos nas principais disciplinas das Ciências Humanas.

O que aprendemos em Psicologia da Religião tem implicações? Não. O que aprendemos em Antropologia, levamos a termos? Não. Tenta-se levar mais a sério a Psicologia, mas eu imagino que seja porque o sujeito religioso que vive dentro do teólogo e da teóloga, que, em tese, deveriam ser acadêmicos, sente protegido na Sociologia, já que sempre se trata "dos outros", da massa, das Instituições. O teólogo e a teólogo estão seguros em seu bunker psicológico, onde a experiência religiosa continua sendo experimentada por eles como se não tivessem aprendido absolutamente nada quanto a isso.

Daí, também imagino, o sucesso das teses pós-modernas. Dissolve-se a realidade, ainda que, quando disso se acuse um pós-moderno ele diga que não faz isso, mas faz. Retoricamente, tudo que o pós-moderno diz está dissociado da realidade - até que lhe apertem os calos! Com o ácido das águas líquidas dissolvendo o calcário do real, pronto, a subjetividade religiosa está a salvo. Os conteúdos aprendidos - mas nunca apreendidos realmente - da Psicologia, da Antropologia - permanecem gravitando a órbita da mente, sem jamais ali pousar.

O fundamentalista e o pós-moderno estão na mesma batalha, conquanto este julgue lutar contra aquele. Os dois lutam a favor de sua espiritualidade, sem apreendê-la nos termos em que as Ciências Humanas as descrevem. Na verdade, o pós-moderno instrumentaliza a retórica científico-humanista para apenas contornar as implicações modernas das Ciências Humanas. Em sua mesa de trabalho, Freud de um lado, Marx de outro, Eliade acolá, Durkheim no colo, fazem de conta que levaram a sério o que aprenderam, mas, lá no fundo, ainda estão naquele primeiro dia da missa, naquele primeiro culto, exatamente naquele dia em que levantaram a mão.






OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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