1. Algum leitor vai retrucar: "não é medo - é respeito, reverência, temor". O cérebro tem mecanismos de proteção da autoimagem de seu operador psicológico... "Eu tenho temor, não medo!. É...
2. Bem, deixada a questão da autodefesa psicológica de lado, mas registrando nossa ciência quanto a ela, partamos para a questão do medo diante do "poder sagrado".
3. Era eu um crente novo. Menos de um ano. Gostava de aproximar-se do poder sagrado. Sempre que podia, ia ao gabinete pastoral, para fazer perguntas.
4. Pastor, na conversão, a gente passa a acreditar...
5. Sim, meu filho. É a fé.
6. Mas a gente não acreditava antes...
7. Sim, meu filho. É a fé que passa a operar em nós.
8. E de onde ela vem?
9. De Deus, meu filho. É Deus quem nos dá a fé. Nem a fé é obra nossa, mas é dom e graça. É Deus quem opera em nós também o querer...
10. Aí, senhores, nesse preciso momento da conversa, Satanás opera. Satanás é o nome de uma área do cérebro, responsável pela crítica impiedosa das respostas prontas e santificadas por Sua Santidade.
11. Hum, você pensa, calado, para que nem Miguel ouça seus pensamentos críticos. Então é Deus que nos faz ter fé? Então, se é Deus que nos faz ter fé, significa que quem não tem fé não tem porque Deus não fez ele ter fé. Então, se ele não tem fé, porque Deus não fez ele ter fé, isso quer dizer que ele não crê, porque Deus não fez ele crer. Se Deus pode fazer crer, e não faz, é porque não quer, porque pode, mas não faz. Logo, se quem crê está salvo, porque Deus quer, resulta necessário dizer que quem não está salvo não etá igualmente porque Deus não quer...
12. Mas, sentado ali, olhando para o "poder sagrado", que lhe dá as santas doutrinas, você finge que não pensou isso.
13. Você finge que a resposta funciona, que ela é santíssima e irrepreensível, a expressão máxima e lúcida - translúcida! da verdade e do absoluto.
14. Ah, entendi...
15. E se vai.
16. E enterra tão fundo a crítica, a amarra Satanás com correntes de olvido tão fortes, tão grossas, que, enterrada e esquecida, a crítica substitui-se pela concordância bovina em relação às respostas de catequese, e você as exprime, as endossa, as distribui.
17. Você se torna a vitrola do "poder sagrado", repetindo, qual disco arranhado, a catecúmena revelação...
18. Até que vai para o Seminário e alguém deixa escapar coisas da caixa dez mil vezes infernal das Ciências Humanas.
19. Aí, você volta para aquela cadeira, aquela sala, aquele dia.
20. Aí, você responde.
21. E, agora sim, de verdade, você se levanta e sai... livre.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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