1. Há certas coisas que é melhor não serem ditas. Depois de ditas, como fazê-las voltar para as cordas vocais, perderem-se na corrente de ar?
2. "A vocação pastoral é de serviço!", diz o cioso vocacionado.
3. Serviço?, como assim, "serviço"?
4. Há "serviço" a "soldo"? O vocacionado há de se consumir, dia a dia, servindo, ou, como qualquer outra profissão - professor, gari, balconista, engraxate, enfermeiro, assistente social, médico, advogado, pedreiro, manicure -, trabalha e recebe pelo seu trabalho?
5. Ah, sim, se serviço aí é um termo que se aplica a qualquer trabalho, que, todavia, pelo que é e faz, é remunerado, então a vocação pastoral é algo relacionado a serviço mesmo. A pastoral e qualquer outra profissão.
6. Profissão, eu digo. Pode-se fazer o malabarismo que se fizer, pode-se empregar a retórica que se quiser: pode-se considerar que há diferentes formas e modos de serviço, e que o pastorado é uma forma peculiar de serviço, mas, a despeito disso, é profissão como qualquer outra - pelo "serviço" que se presta, recebe-se xis de "salário"... Alguns, comissões a percentual fixo sobre as entradas. "Serviço"...
7. Eu consideraria alguma coisa diferente um pastor que, sustentando-se a si mesmo, cuidasse de uma comunidade sem nada receber por isso. Mas, ainda assim, não seria considerado algo distinto - voluntariado, é o nome disso, e o mundo está cheio de voluntários.
8. Só o fetiche e a síndrome do "servo de Deus" impede que o pastor se veja como de fato é.
9. Naturalmente que esse não é um comentário para "desmerecer" a pastoral - é apenas a afirmação crítica de que a pastoral é uma atividade humana, social e política como qualquer outra, sem nenhuma distinção em substância.
10. O quê? Aquele monte de mãos em cima da cabeça do sujeito? Ah, resquícios e ciúmes da ordenação católica. Um teatro sacramental exsudando intenções políticas... Podia-se bem viver sem isso. Para a pastoral, um sim: para as pantomimas, um sonoro não!
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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