1. Para a discussão do que pode haver entre Deus e o amor, antes de qualquer coisa, deve-se ir à História.
2. Primeiro, um recorte: estou pensando a e dentro da tradição cristã. Indiretamente, o que eu disser pode ser aplicado às demais tradições religiosas - diretamente, todavia, não.
3. Pois bem, um teólogo deve saber que a relação entre Deus e amor é recente e secundária. Trata-se de um episódio marcante da moralização da religião.
4. Deus se tornou Amor depois do período persa. Alguma coisa entre o século V e o NT. Não é que antes não se aplicasse a Deus a noção de amor: é que, antes, Deus tanto amava quanto desamava, cuidava quanto destruía.
5. Deus foi castrado.
6. Talvez seja por isso que gostemos dele.
7. Nós o controlamos.
8. E para isso também inventamos o diabo: para poder usar como comporta: todo o mal, de outra forma inexplicável, se Deus é amor, é, então, lançado às costas do diabo.
9. Funciona. As igrejas estão lotadas e a TV mostra a batalha entre Deus e o diabo todos os dias.
10. Todavia, temos de saber que fomos nós a eleger o amor e, por causa disso, a castrar o lado mau de Deus. Com o pênis castrado, criamos Senjaza.
11. Psicologicamente, resolveu-se a questão religiosa, moralizando-a.
12. Todavia, isso apenas significa que Deus é, hoje, nada mais nada menos do que a imagem de nossa moral, e o amor que eu ponho em Deus nada mais é do que o amor que eu escolhi, que eu quero para mim, que eu digo querer para os outros, ainda que, às vezes, minha prática me desminta.
13. Não é Deus lá - é o amor que eu pus lá. "Eu" - isto é - minha tradição, que eu assumo (se assumo).
14. Os desdobramentos dessa reflexão são inúmeros. Não os vou antecipar.
15. Gostaria apenas de dizer que seria preciso assumirmos que não há mais nada além de nossos sonhos projetados naquilo que chamamos Deus - e reconhecê-lo facilitaria muito nossa sanidade, nossa vida, nossa prática, nossas relações, nossa teologia, nosso futuro.
16. Todavia, enquanto Deus for esse jargão, ainda que contra minha mais profunda vontade, contribuiremos para a instrumentalização dessa palavra - Deus - para outras utopias que não exatamente aquelas de que nos orgulharíamos...
17. Como se se tratasse mesmo de Deus...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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