(2012/427) D(e quando) o diálogo (se torna) impossível

1. Como se pôr diante de um artigo que mencione ações do Espírito Santo, ações de Deus, ações do Espírito de Cristo? Como?

2. Não, o artigo não está descrevendo, em chave acadêmica, digamos, fenomenologicamente, algo que os homens a a mulheres do passado - digamos, da época paulina - pensavam encontrar por trás dos acontecimentos e das palavras. O artigo está, ele mesmo, referindo-se ao Espírito Santo, a Deus, ao Espírito de Cristo...

3. O artigo chama a isso "teologia". A seu tempo e modo, ele quer criticar certa forma de se fazer "teologia", mas ele mesmo é "teologia" e, mais importante - ele mesmo aponta para o Espírito Santo "em ação"...

4. Eu só posso fechar a revista, pôr de lado e artigo e recolher-me.

5. Não posso acompanhar o argumento - para nem tocar no tema do "raciocínio" - do texto. Ele quer que eu parta do pressuposto da ação do Espírito Santo, isto é, que eu despeje-me aos pés da fé, e, assim capturado, compreenda a dimensão "ética" de seus "argumentos".

6. Trata-se de um jogo de acreditar antes ou de acreditar depois - um diálogo entre iguais ou um diálogo entre catequizados (tenta-se, ultimamente, um teatro estético do dizer espiritual, mas não apostaria em sua sobrevida).

7. Eu só posso fazer o que fiz há quinze minutos atrás: pôr, delicadamente, a revista em seu lugar, e dizer para mim mesmo: como ouvir uma coisa dessas?, isto é, de que modo me é possível emprestar ouvidos a essa espécie de retórica?

8. Aí, minha consciência hipercrítica me acusa: e quem disse que é a você que o artigo se destina?

9. Ao que minha consciência maximamente hipercrítica respondeu: e o que faz um texto desse numa revista acadêmica?

OSVALDO LUIZ RIBEIRO