quarta-feira, 9 de maio de 2012

(2012/429) De ser mais real do que o rei

1. Não era para levar tão a sério - mas eu levo. Aí, não tem jeito - nem retorno.

2. Eu quis ser mais protestante do que o Protestantismo. Levei a sério demais, levei longe demais, máximas supostamente protestantes: liberdade de exame bíblico, sacerdócio universal do crente, a Bíblia como "regra de fé e prática"...

3. Ultrapassei todos os sinais vermelhos, todas as interdições eclesiásticas, e vi a nudez de todos os dias e "altares"...

4. Senti o cheiro do incenso em todas as naves, os paramentos em todas as liturgias, as imposições de mãos, a vozes colocadas, os gestos medidos, as palavras sopesadas, os cardeais, os papas, todos e cada um, e descobri que tudo era uma grande encenação protestante.

5. Ninguém vê isso impunemente. Ou arranca os olhos, ou o coração.

6. Meus olhos estão aqui...

7. Era tudo um grande jogo de palavras - um "nós" contra "eles", para valer apenas enquanto éramos nós contra eles, mas, quando o nós se dividiu em milhares de denominações, o circo tornou-se patético, mas o jogo já era tão sério que era impossível desmontar a lona, de modo que o espetáculo, hoje, invade as casas, as TV, o trabalho, vai-se tornando um elemento do DNA da cultura...

8. E eu, teimoso, ainda insistindo nos valores protestantes...

9. Aí, caem-me os valores "batistas" no colo, tirados que foram eles do liberalismo inglês do século XVI e XVII - liberdade de consciência, liberdade de culto, liberdade de expressão...

10. Sou filho dessas duas ondas iconoclastas que, todavia, têm contra si, o fato histórico de se tornarem úteis ao jogo de manter as coisas como se novas fossem, permanecendo elas tão velhas quanto Adão...

11. Filho delas - liberdade de exame das Escrituras, sacerdócio universal do crente, liberdade de consciência, liberdade de culto -, essas forças terríveis, tornei-me imprestável para a encenação de fingir que são elas na sala, quando, a rigor, ainda é Pedro a cantar na abadia...



OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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