2. Eu quis ser mais protestante do que o Protestantismo. Levei a sério demais, levei longe demais, máximas supostamente protestantes: liberdade de exame bíblico, sacerdócio universal do crente, a Bíblia como "regra de fé e prática"...
3. Ultrapassei todos os sinais vermelhos, todas as interdições eclesiásticas, e vi a nudez de todos os dias e "altares"...
4. Senti o cheiro do incenso em todas as naves, os paramentos em todas as liturgias, as imposições de mãos, a vozes colocadas, os gestos medidos, as palavras sopesadas, os cardeais, os papas, todos e cada um, e descobri que tudo era uma grande encenação protestante.
5. Ninguém vê isso impunemente. Ou arranca os olhos, ou o coração.
6. Meus olhos estão aqui...
7. Era tudo um grande jogo de palavras - um "nós" contra "eles", para valer apenas enquanto éramos nós contra eles, mas, quando o nós se dividiu em milhares de denominações, o circo tornou-se patético, mas o jogo já era tão sério que era impossível desmontar a lona, de modo que o espetáculo, hoje, invade as casas, as TV, o trabalho, vai-se tornando um elemento do DNA da cultura...
8. E eu, teimoso, ainda insistindo nos valores protestantes...
9. Aí, caem-me os valores "batistas" no colo, tirados que foram eles do liberalismo inglês do século XVI e XVII - liberdade de consciência, liberdade de culto, liberdade de expressão...
10. Sou filho dessas duas ondas iconoclastas que, todavia, têm contra si, o fato histórico de se tornarem úteis ao jogo de manter as coisas como se novas fossem, permanecendo elas tão velhas quanto Adão...
11. Filho delas - liberdade de exame das Escrituras, sacerdócio universal do crente, liberdade de consciência, liberdade de culto -, essas forças terríveis, tornei-me imprestável para a encenação de fingir que são elas na sala, quando, a rigor, ainda é Pedro a cantar na abadia...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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