sexta-feira, 27 de abril de 2012

(2012/416) Última entrevista de Clarice Lispector


1. É a primeira vez que ouço Clarice. Que coisa curiosa. Ouvi-la a meses de sua morte. Nunca imaginaria seu sotaque (isto é, sua língua presa e seu erre ucraniano) assim, mas, confesso, o que me surpreende nela, mas exclusivamente com relação a essa entrevista, é sua concisão - ela responde com poucas palavras. Se sua resposta inspira continuidade, ela não continua...

2. Há coisas que ela diz, sobre ela, que são coisas minhas, que ela roubou de mim. Bel as reconhecerá. O modo como acontece com ela as coisas que ela escreve...

3. Não tenho esse lugubricidade que ela arrasta em sua voz e corpo - uma tristeza de fundo, sim, mas nela, essa melancolia é grave, pesada, um fardo de viver, um cansaço que já é, decerto, o avizinhamento da Morte que se aproxima.

4. Não quero a morte, nem a temo. Quero viver, não estou cansado e nem tenho a qualidade dessa alquimista. Mas ouvi-la foi um pouco entrar dentro de mim mesmo.










OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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