quinta-feira, 29 de março de 2012

(2012/334) A saída não pode ser o recalque

1. É engraçadíssimo - e trágico - ver como todo o esforço retórico das posições de defesa do "religioso", ao menos na academia, se dá pela tentativa de contornar Marx, Nietzsche e Freud.

2. Não acredito em nenhuma Teologia que hoje se faça que contorne esses três senhores - mesmo aquelas aparentemente bem-sucedidas pelo fato de se dizerem baseadas em teóricos que, surpresa?, contornam aqueles três senhores.

3. Não, Marx não é um Deus. Tampouco estava cem por cento certo. Mas não se pode negar, sob nenhuma circunstância, que, apesar de se poder usar a religião também como cafeína (veja-se o caso - morto? - da Teologia da Libertação), ela, a religião, é, para todos os fins, ópio.

4. Uma Teologia que negue o ópio e/ou a cafeína que é a religião, também para isso empregando teóricos não-marxistas, somente para ter uma "base", não tem nenhum fundamento. Tem? Penso que não. Desviar do trem não faz com que o trem deixe de vir...

5. Não, Nietzsche não é um Deus. Tampouco estava certo em tudo quanto disse. E é verdade que se trata de um escravagista repugnante. Todavia, quem há de negar as críticas que ele fez à religião e, basicamente, à cristã? 

5. Uma Teologia que negue Nietzsche, por qualquer razão que seja, não merece sequer ser ouvida, quanto mais crédito.

6. Não, Freud não era um Deus nem estava 100% certo. Todavia, qualquer Teologia que não trate a religião como uma neurose, lamento, senhores, precisa ir urgente, e não é ao dentista...

7. Não se pode - aceito - reduzir a religião a Marx, Nietzsche e Freud. Todavia, tratar a religião como algo não submetido aos três senhores, cá entre nós, cavalheiros, representa que espécie de "ação" programática? Por um passe de mágica, fazer com que desapareçam? Recalque.

8. Enquanto teólogo, preciso - é fardo histórico não saudavelmente recalcável - passar por Marx, Nietzsche e Freud, assimilá-los - e não como Aquino fez com Aristóteles, castrando-o! - e refazer, inteiramente, integralmente, inegociavelmente, toda a Teologia.

9. Posso não fazer?

10. Posso.

11. Posso decidir fingir que faço Teologia para os dias de hoje, com os instrumentais de hoje e para os homens de hoje. Fingir.

12. Posso assumir discursos anti-iluministas, anti-críticos, e disfarçá-los de qualquer outra coisa. Mas o que eu estou fazendo, aí e então, de fato, é negar fazer passar a religião pelo crivo crítico. É disfarçar o indisfarçável - esse constrangimento que aqueles senhores me provocam...

13. E, senhores, sabe qual é a coisa mais engraçada do argumento contra-crítico em relação ao que aqueles senhores disseram sobre a religião? É que, a despeito do que eles teriam dito, a religião permanece firme e forte. E o que eu faço? Rio ou choro?



OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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