quinta-feira, 30 de junho de 2011

(2011/405) Descobrindo que "amo" os "marxistas"


1. É uma constatação que me vou permitindo desenhar, assim como em fogo brando. Deixando de lado Mircea Eliade, parece correto que eu diga o seguinte: "amo" os autores marxistas, e (quase?) só os autores marxistas. É ler um e encontrar lá, em maior ou em menor grau, meu próprio pensamento. É que eles "amam" - assumem! - a materialidade, a "realidade", o "real", e, mais do que isso, têm uma boa relação com esses conceitos e o que representam - e, nesse sentido, Eliade tem de ser marxista...

2. Outra coisa que vou constatando: os marxistas que leio e amo batem - e impiedosamente - nos mesmos autores que costumo bater - e pelas mesmas razões. Losurdo, por exemplo, quando não alfineta Vattimo, afasta-se de Gadamer. Não, não é coincidência.

3. Vejam o que li hoje de manhã, enquanto esperava uma turma desesperada a fazer uma prova de hebraico (em que um entrega a prova em branco e, outro, tira 10 - as contradições da vida):
A história das interpretações não tem nada a ver com 'a história dos efeitos' (Wirkungesgeschichte) cara à hermenêutica de Gadamer, que substitui a categoria de 'equívoco' com amável irenismo pela de 'diálogo' articulado de vários modos entre intérprete e texto, mas que de qualquer forma ignora a categoria de contradição objetiva e a dimensão político-social do debate hermenêutico (Domenico Losurdo, Hegel,Marx e a Tradição Liberal, UNESP, 1998, p. 46).

4. Não é, para todos os fins, o que venho dizendo há algum tempo? O que não significa, todavia, que seja "real" - isto é, que corresponda aos fatos...

5. Bem, antes que adiantem "juízos" - não concordo com isso porque o teria dito Losurdo: encontro é em Losurdo o que eu mesmo já havia percebido, desde a primeira vez em que a "teoria hermenêutica" de Gadamer me foi apresentada honrosamente em sala de aula pelo amigo e professor Haroldo Reimer. Prova de que não se pode levar a sério as teorias de "dependência" é o fato de que não fez a menor diferença ter sido meu amigo (agora também de blog) a indicar-me a leitura do filósofo - desde a primeira vez, reconheci em Gadamer um antípoda - isto é, no campo hermenêutico, não posso dar dois passos com o grande teórico de Verdade e Método. Fosse verdade a "tese", estaríamos até hoje nas cavernas, e, de reto, Gadamer não escreveria livros. É mais ou menos como os "pessimistas" da literatura, da filosofia, da teologia: o mundo moderno tem muito a lhes oferecer, e, todavia, como resmungam... Resta ver do que realmente resmungam... E se rejeitam - de fato! - a modernidade!



OSVALDO LUIZ RIBEIRO

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Sobre ombros de gigantes


 

Arquivos de Peroratio