sábado, 29 de janeiro de 2011

(2011/047) Não se trata de pôr "Deus" contra "Deus"


1. Antecipo um questionamento. Por que a crítica teológica aos fundamentos da Teologia cristã? Por que não simplesmente apontar onde ela está errada e onde ela está certa? Dizendo de outro modo - por que pôr em cheque o estatuto da própria Teologia, denunciando-a como artifício retórico, em lugar de tão-somente corrigir seus equívocos e indicar, profética e/ou pastoralmente, as "verdades verdadeiras" da Teologia, separando, assim, o joio do trigo?

2. A resposta me parece muito simples, e relativamente óbvia - deveria ser óbvia a todo teólogo, mas não é, e, se for, pior, porque a atitude do conjunto dos teólogos não o revela. Não se trata de alguém com melhor acesso a "Deus" e às "verdades de 'Deus'" corrigir os erros daqueles que se consideravam, então, os portadores da voz de "Deus". Isso fazem entre si os teólogos eclesiásticos, batistas contra presbiterianos, por exemplo, que, se em público se comportam mais ou menos amistosamente, em seus conventículos catequéticos garantem, jurando sobre a Bíblia, que a verdade é a sua, e que o outro está errado, é herege e vai penar por isso. Pobres teólogos que somos, presos na teia de aranha do dogma e da política de Igreja, tendo de mentir... para nós mesmos, porque esse é o nome do jogo. Triste dia o dia de fazer Teologia...

3. Não há quem possa dizer qualquer coisa segura e garantida sobre "Deus". Nem o papa, nem o Presidente da CBB, nem o Patriarca de Constantinopla, nem quem se assenta na cadeira de Pedro, em Londres, nem Bush ou Obama. Não há. Todos os discursos que se arrogam em portadores de verdades divinas são humanos, seus conteúdos, humanos, suas verdades, humanas, suas mentiras, humanas, suas virtudes, humanas, seus pecados, humanos. Quando sobem, batem no teto e voltam, e se a platéia sente comixões, eis aí um espetáculo que igualmente se dá em outras religiões - em todas, porque, nesse sentido, são fenômenos psicológicos, subjetivos e de massa.

4. Assim, eu cairia num equívoco tremendo, imperdoável, se julgasse que podia contradizer a Teologia a partir de "Deus". Nem defendê-la, nem contradizê-la. Por isso não empunho o discurso de "Deus" para criticar a Teologia. Empunho a perspectiva humana, das Ciências Humanas, seu jogo, sua epistemologia, porque é o mais honesto a se fazer, nesse campo. Se não já a única coisa honesta...

5. Não se trata de selecionar verdades teológicas dentre mentiras teológicas, como quem cata feijões à frente do Jornal Nacional. Trata-se de denunciar que todo o conteúdo - sem exceção alguma - das Teologias, de todas as Teologias, cristãs e não-cristãs, tem caráter epistemológico humano - e nada além disso.

6. Penso, sinceramente, que a sanidade teológica começa aí. E a honestidade teológica também.


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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