terça-feira, 23 de junho de 2009

(2009/373) Em algum lugar, algum dia - jura-me!


1. Em algum lugar dessa terra de Deus, dos deuses, de ninguém, sei lá, há de haver alguém que saiba o que é viver sem a faca nos dentes, sem a faca no pescoço, sem a faca a cutucar-lhe o lombo, a pele, o olho. Tem de haver. Não é concebíbel que essa vida da gente seja, apenas, fazer força, e mais força, e mais força ainda... para manter-se no mesmo lugar, para não ter o chão roubado, a cabeça pisada, a vida danada...

2. Nao é possível, não senhor, que a vida seja a força que ela faz para ser - e nada mais... Quem o diz, senhores, senhoras, veio dos mitos, de modo que não é possível repetí-los, como a calar-me a dor, lacrar-me a boca, sedar-me os poros. Agora mesmo, quando ia desligar a bomba d'água, ia confabulando comigo sobre sentar e ter uma conversa séria com Deus, daquelas de horas, como se possível fora uma coisa como aquela, de Jacó, a agarrá-lo - ou a quem seja - pelo colarinho, e a dizer-lhe umas verdades... não sem ates conseguir o que queria...

3. Não, senhores e senhoras, não é que eu esteja aqui, exigindo isso para mim, que a vida me dê uma colher de chá, que me beije a face, que a Bel deixa... O que eu estou dizendo é que, agora, nesse dia, nessa ora, nesse instante, aqui, agora, bastaria que eu soubesse que há alguém, qualquer um, ao menos um, um homem, uma mulher, alguém, meu Deus, que viva assim, que tenha conseguido... viver a vida sem força, sem dor, sem frustrações. Basta-me saber isso. Não preciso de uma promessa para mim - apenas saber que não luto em vão, que é possível conseguir o que toda a alma quer: a vida... Porque me consolaria mais a notícia de ser um mal-vivido, do que um parvo a lutar em vão... Porque podem me culpar de muitas coisas, mas, não, ah, Deus, disso, não!, de não lutar!

4. Mas... e se tudo é apenas isso - força à toa...?, a estupidez de achar que há algo a fazer, qando não há...

5. Preciso, meu Deus, de um oásis. Preciso de uma sombra. De um descanso. De paz.

6. E, Deus, se algum distraído, pensar que é de ti que preciso, é porque não há de ter, ainda, se dado conta de que é contigo mesmo que choro agora...




OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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