A grande esmagadora maioria dos textos de Humanas que leio recentemente não vai muito além de utopia. O teórico escreve sobre o que ele acha que tinha que ser a sociedade, e define os conceitos como se assim eles se dessem na realidade. Sobre a Violência, de Hannah Arendt, arrancou de mim dois sorrisos de animação quando, logo no início, critica severa e explicitamente teóricos que criam hipóteses que não se sustentam no real. Animado, lá vou eu...
... para dar com os burros n'água. O conceito de "poder" que Sobre a Violência postula não tem absolutamente nenhuma parte com o real - é mera utopia e desejo. Perdoável, se Hannah não começasse justamente criticando esse tipo de teoria...
Além disso, o próprio livro se contradiz no campo da lógica dos conceitos. O livro dá poder como ação em uníssono, ação em acordo. E diz que poder não tem relação com violência. Mas, quando o consenso que dá origem ao poder e o sustenta se fragiliza, então o poder pode usar a violência para se manter...
Você consegue perceber a contradição? Bem, se o poder é consenso, quando o consenso se fragiliza, o poder desaparece. Logo, se o poder desaparece, já que não há mais consenso, como se pode dizer que o poder, que seria consenso, consenso que não existe mais, pode usar a violência para se manter?
Não funciona...
É hipnótico, porque é a tentativa de pedir ao poder que não assuma a violência, é desejo, é utopia, mas faz nenhum sentido.
O conceito de poder que Hannah tenta manejar naquela obra faz do poder um fungo que brota aqui e ali, sem depender de nada que não seja consenso. Mas em nenhum momento se preocupa em perguntar por que meios o consenso se produz.
O conceito de poder de Sobre a Violência é disjuntivo. E tudo que é disjuntivo, não é real.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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