No campo da religião e da espiritualidade, só insiste em que se tem que "crer" em alguma coisa quem realmente ainda não encarou o conteúdo desses dois procedimentos antropológicos como mitológicos. No fundo, o sujeito não fez a travessia: ele está desgostoso com o Papa, com a Papisa, com os cardeais, com o diabo, mas ele gosta muito do jogo. De sorte que ele faz como as empresas fazem, antes de privatizarem: selecionam a parte boa e a parte podre: a parte boa é a espiritualidade, ele diz, e a ruim, a religião. Mas logo se vê que isso é apenas cálculo. Não há diferença alguma entre religião e espiritualidade, salvo o tabuleiro e as peças, mas o jogo é radicalmente o mesmo. De sorte que só quem ainda não teve a coragem de enfrentar com firmeza os mitos religiosos e espirituais ainda precisa convencer-se de que espiritualidade é uma coisa e religião outra.
Mas advirto que essa distinção não vai além de um gesto elitista: agora ele olha para si como superior, e para a massa ignorante que se convulsiona na baba religiosa, com desprezo e pena. Já eu olho para ele e para a massa e vejo a mesma coisa...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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