Pode ser um volume de 500 páginas, podem ser doze volumes de 700 páginas cada um. Pode ser escrito em alemão, latim ou cirílico. Pode ter capa dura, mole, de papel reciclado ou couché. Pode ter sido escrito há mil e duzentos anos, há duzentos ou ontem. Pode ter sido escrito por pastor ou por leigo, padre ou diácono, coroinha ou porteiro, homem ou mulher. Se é teologia sistemática, se fala de Deus, Espírito Santo, anjos, pecado, graça, salvação, céu, inferno, Teodicéia, logias a não mais acabar nunca, é mito. Nem toda a erudição do mundo, nem se forem reunidos todos os excelentíssimos sumos-teólogos do planeta a coisa deixará de ser mito. Mito foi, mito é e mito será. Nem se todos os habitantes do planeta se reunirem e, votando, decidirem chamar aquilo de conhecimento, nem assim deixará de ser o que é: mito. Racionalizar mitologia não faz dela outra coisa. Dar a cada termo um correlato alemão não faz dela outra coisa. Trazer filósofos para a mesa não faz da coisa outra coisa.
Para mim, só há um lugar para essa biblioteca: a História do Pensamento Humano. E é só disso que trataremos, quando abrirmos cada página: o que é que se pensava há xis séculos, a xis décadas, ontem.
Mas qualquer um que tentar encontrar nesses livros uma revelação que seja de qualquer mistério celeste, honestamente, não está fazendo nada diferente de qualquer horóscopo de jornal, conquanto, admito, tenha um pouco mais de trabalho.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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