esmo num pequeno poema como o haicai, são infinitas as possibilidades de tradução. Tomemos o famoso haicai de Bashô, provavelmente composto em 1686. Em japonês, teríamos: furuike ya/ kawazu tobikomu/ mizu no oto. Literalmente: O velho tanque - Uma rã salta. Barulho de água.
Supõe-se a atividade de tradução como reproduzir com a máxima fidelidade um conteúdo escrito, produzido em outra realidade cultural. Mas, se a começar da língua, os próprios universos do tradutor e do traduzido são completamente diferentes, não seria contraditório esperar por esta fidelidade? Quando muito, o que teríamos seria uma pálida versão da idéia original, tão fiel quanto consiga (e deseje) encontrar correspondências culturais entre os dois ambientes.
Neste sentido é que poderemos entender as traduções abaixo, tanto asstricto sensu como aquelas que, sem se declararem como tal, deliberada ou inconscientemente plagiam o haicai mais famoso de todos os tempos. Pois o plágio, visto por outros olhos, não passa de uma espécie de homenagem. E na classe das homenagens é que entram os poemas alusivos que, explicitamente fazendo as honras ao simpático batráquio, não perdem de vista a longa tradição iniciada com o venerável mestre japonês e que hoje deita firmes raízes em solo tupiniquim.
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Lago vetusto: A rã se lança n'água Com estrépito!
Em pleno luar, Ao duplo salto de um sapo, Seguiu-se um desmaio.
VELHO LAGO MERGULHA A RÃ FRAGOR D'ÁGUA
Velho tanque abandonado ao silêncio... lança-se a rã num mergulho: quase inaudível som da água.
A Rã Coro de cor, sombra de som de cor, de mal me quer De mal me quer, de bem, de bem me diz De me dizendo assim: serei feliz Serei feliz de flor, de flor em flor De samba em samba em som, de vai e vem De verde, verde ver pé de capim Bico de pena, pio de bem-te-vi Amanhecendo sim perto de mim Perto da claridade da manhã A grama, a lama, tudo é minha irmã A rama, o sapo, o salto de uma rã
silencioso lago o sapo salta tchá
No velho tanque Uma rã salta-mergulha Ruído na água.
Velho tanque. Uma rã mergulha. Barulho da água.
Embaixo do tanque Não encontro o que procuro Uma rã me assusta.
Rã No lago, mergulha uma rã... Na água, a manhã verde-azul borbulha...
Perereca Elástica... pula... Risco acrobático, arisco. A poça se ondula...
VELHA LAGOA UMA RÃ MERG ULHA UMA RÃ ÁGUÁGUA
Tanque envelhecido uma rã nele mergulha um barulho n'água!
O salto da rã caiu-me no ombro e ela no charco
Superfície verde. A rã mergulha quebrando a tranqüilidade.
chuá, chuá coach, coach tchibum!
Uma rã saltando blum o rio também pula alforriado
Ah! o antigo açude! E quando uma rã mergulha, o marulho da água.
No velho poço plop e some, tão fria a rã de Bashô
camões revisto por bashô
o salto da rã sobre a folhagem contorce o verso
Verde Na lâmina azinhavrada desta água estagnada, entre painéis de musgo e cortinas de avenca, bolhas espumejam como opalas ocas num veio de turmalina: é uma rã bailarina, que ao se ver feia, toda ruguenta, pulou, raivosa, quebrando o espelho, e foi direta ao fundo, reenfeitar, com mimo, suas roupas de limo...
lago sapo voa lagoa
Quebrando o silêncio de charco antigo, a rã salta na água, ressoar fundo.
O velho tanque uma rã mergulha dentro de si.
o tanque estanque mergulho de rã: t SHI bun ! circunfluindo ...
Na beira do charco, coaxa o sapo-ferreiro e acorda o silêncio.
Na antiga lagoa pro fundo uma rã mergulha. Barulho das águas.
((((( o tremor da água se espalha ))))) mergulha em galáxias.
Ao pular de um sapo, as águas do velho lago se abriram sonoras...
Um velho lago parado... cerrado... calado... de águas turvas e tranqüilas, realizava, no deslumbramento da noite clara, seu sonho antigo de ser espelho... Seu fundo lodoso e sombrio refletia, cheio de orgulho, um cortejo relumbrante de estrelas, quando um sapo, asqueroso e profano, saltou sobre ele, arrancando de suas águas um arrepio de pavor e um gemido estrangulado de agonia...
Água resmungona... No tanque limoso o pulo da rã.
Das mãos do menino Para dentro da lagoa O salto da rã.
As pererecas pulam no lago verde A água suspira
Sobre o tanque morto Um ruído de rã Que mergulha.
Nem grilo, grito, ou galope; No silêncio imenso Só uma rã mergulha plóóp!
águas paradas mal pula a rã se inundam de ondas sonoras
Na grama da praça, a rã salta, salta e assusta a moça que passa.
Ploc! Uma rã pula no silêncio da lagoa, e o silêncio ondula.
Sobre o tanque morto um ruído de rã submergindo.
Ah, o velho lago. De repente a rã no ar e o baque na água.
O velho tanque Uma rã mergulha, Barulho de água.
velha lagoa o sapo salta o som da água
MALLARMÉ BASHÔ um salto de sapo jamais abolirá o velho poço
No tanque vetusto um estalido na água: o salto da rã!
Plenitude A água está parada. Uma rã salta no musgo. Olho. E mais nada.
velho tanque a rã salta som do baque n'água
O tanque rachado. Um fio de água molha a pata da rã.
O sapo mergulha: N'água fria da lagoa uma pedra parda.
Rã Com seu pulo mole mergulha... A água borbulha e num gole a engole...
Um velho tanque: salta uma rã zás! esquichadelas.
O sapo pulou no velho tanque vazio e... espatifou-se.
No velho tanque, saltou uma rã. O bulício...
Ruidosas crianças Afugentam da lagoa As rãs de Bashô.
No capim que cresce A pequena rã mergulha Tarde cinza-chumbo.
Um templo, um tanque musgoso; Mudez, apenas cortada Pelo ruído das rãs, Saltando à água, mais nada...
O sapo, num salto cresce ao lume do crepúsculo buscando a manhã
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OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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