Publiquei outro dia um artigo na Estudos de Religião, recomendando (quem sou eu?!) prudência e parcimônia nos "exercícios" de descortinamento das estruturas de livros compostos do Antigo Testamento - como Isaías, por exemplo.
Há uma tendência a concentrar-se não na interpretação de passagens autônomas, mas de tentar descobrir a "estrutura" planejada pelo redator da composição final...
Mostrei, a partir de Is 4,2-6, como é arriscado: até a tradução - em boas Bíblias - da passagem está errada (a tradução!)... Eu argumentei que, se o tradutor sequer consegue traduzir direito, como se pode, com essa falta de compreensão da parte, captar o sentido estrutural do todo?
Há algo muito errado aí...
Ontem, terminando um artigo sobre Jó 26,13, cujo texto hebraico padrão - a Biblia Hebraica Stuttgartensia - está corrompido (segundo Harold Cohen, e está mesmo, ele está certo), encontrei outro caso, ainda mais gritante.
A palavra "céus" - shama'im, digamos - que está no texto e em todas as versões e comentários que conheço e consultei, está errada. Ela é fruto de um erro de copista: ele juntou, por equívoco, duas palavras: sham e yam, que significam "pôr Yam" (Yam = mar = (também) o dragão contra o qual a divindade luta para criar o país.
Ficando por aqui, a palavra "céus" é um erro. Pois um eruditíssimo livro alemão, com centenas e centenas de notas, demonstra a estrutura de Jó 26 utilizando-se de "Himmel" ("céus"), justamente a palavra que nunca existiu no texto hebraico original...
Ou seja, se Harold Cohen está certo, e está, o amigo alemão fez muito esforço e escreveu um capítulo inteiro... sem base...
Mas revela que você pode propor estruturas com bolhas de sabão...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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