quinta-feira, 4 de julho de 2013

(2013/684) Acredito, mas não me importo mais


Acredito em uma Igreja que não minta. Mas não me importo mais...

Não me importo porque não acredito mais que ela seja relevante.

Mesmo, necessária.

Compreenderei posições contrárias, mas não as discutirei.

Acredito que aquilo que se poderia esperar da Igreja, ela não fez - e não fará mais: perdeu-se, extraviou-se, deteriorou-se.

Perdeu-se em doutrinismos e emocionalismos, em capital e poder - e não há cura mais.

Felizmente, o que se poderia esperar dela se pode obter por outros meios: a política democrática, ainda paupérrima e estuprada, como negra de senzala, mas com um brilho nos olhos e negro spirituals nos lábios de África.

Na arte, qualquer que seja ela.

Na pesquisa, no desdobramento místico da racionalidade mamífera em contato com a terra.

Acredito em uma igreja que não minta, que não adultere, que não corrompa, que não se entregue ao cinismo pastoral, que não castre, que não mate...

Mas não me importo mais.

Desacredito que nosso destino dependa disso.

Porque, se eu acreditasse que dependesse, matar-me-ia agora.

Ponho minhas esperanças em outras caminhadas.

Política, arte e ciência.

Uma pena.

Tínhamos tanto a aprender e tanto a somar...

Mas gostamos de homens-tomados-de-Deus, e, quando Deus toma os homens, eles apodrecem.

Que pena...

Permanece a esperança, conquanto vista em outras caminhadas: se à Igreja for contentamento poder compreender que, afinal, ele entregou-me o fogo, acho que ficaremos, ambos, bem...





OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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