sábado, 27 de abril de 2013

(2013/485) STF versus Congresso - pare de ler a mídia - a mídia, quando não emburrece, embrutece






Maria Inês Nassif
A reação de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e de parlamentares oposicionistas à aprovação da admissibilidade da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) de número 33, que define poder recursal do Congresso a leis declaradas inconstitucionais pelo STF, pode ser tirada da catalogação de fato político e inserida na lista de manipulação de informação. Com toda certeza, os ministros que estão reagindo desproporcionalmente a uma tramitação absolutamente trivial de uma emenda constitucional no Congresso, e os parlamentares que entraram com um mandato de segurança para a Câmara interromper uma tramitação de matéria constitucional, estão fazendo uso político desses fatos. Vamos a eles:
  1. A emenda tramita desde 2011. Foi proposta pelo deputado Nazareno Fontelenes (PT-PI) em 25 de maio do ano passado e encaminhada à Comissão de Constituição e Justiça em 06 de junho. O relator da matéria é o deputado João Campos (PSDB-GO) – um parlamentar da oposição. Não existe hipótese de a emenda ter sido uma armação de parlamentares governistas como uma retaliação ao Supremo, que condenou dois deputados que integram a CCJ e, na última semana, suspendeu a tramitação de um projeto que limita a criação de partidos no Senado. Deixando claro: os parlamentares da CCJ não tiraram uma emenda da cartola para aborrecer o STF nesse período em que se constrói um clima de conflito permanente entre Congresso e STF para validar decisões questionáveis daquela corte em assuntos de competência exclusiva do Legislativo – como a liminar dada pelo ministro Gilmar Mendes a uma ação do PSB, suspendendo a tramitação de uma lei no Senado, também na quarta-feira.
  2.  Aliás, o fato de José Genoíno (PT-SP) e João Paulo Cunha (PT-SP) terem se tornado personagens dessa história comprova o uso político desse episódio. No ano passado, quando a emenda foi apresentada, Genoino sequer tinha mandato parlamentar.  Ele e Cunha apenas a votaram, como os demais integrantes da Comissão: não pediram a palavra, não defenderam a aprovação, nada. Apenas votaram a favor de um parecer de um parlamentar da oposição.
  3. A PEC estava na agenda de votação da CCJ desde o início dos trabalhos legislativos, em fevereiro deste ano. Não foi agendada numa semana de conflito entre Congresso e Supremo para retaliar o Poder Judiciário simplesmente porque esperava a votação desde fevereiro.
  4. A votação de admissibilidade de uma proposta de emenda constitucional, ou mesmo de lei, pela CCJ, não é uma apreciação de mérito. Quando o plenário da CCJ vota a favor da admissibilidade, não quer dizer que a maioria da Comissão concordou que essa emenda deve se tornar uma norma constitucional. Quando aprova a admissibilidade, a CCJ está dizendo que aquela proposta cumpre os requisitos de constitucionalidade para continuar a tramitação até chegar ao plenário da Câmara – onde, aí sim, o mérito da proposta será analisado, em dois turnos, para depois cumprir dois turnos no Senado. E apenas com três quintos do quórum de cada casa. Isto é: o primeiro passo da tramitação da PEC 33 foi dado na quarta-feira. Daí, dizer que o Congresso estava prestes a aprovar a proposta para retaliar o STF só pode ser piada, ou manipulação da informação.
  5. Ainda assim, se uma Comissão Especial, lá na frente (se o STF não usar a força contra o Congresso para sustar a tramitação da matéria), resolver aprovar o mérito, e os plenários da Câmara e o Senado entenderem que é bom para a democracia brasileira estabelecer um filtro parlamentar para as decisões de inconstitucionalidade do STF, essa decisão apenas cumpriria preceitos constitucionais (embora Constituição esteja numa fase de livre interpretação pelos ministros da mais alta corte). Não precisa ser jurista para entender que a proposta tem respaldo na Constituição.  Foi com base em dois artigos da Carta de 1988 que os parlamentares votaram pela admissibilidade da PEC. O artigo 52, que fala da competência exclusiva do Senado Federal, diz, em seu inciso X, que o Senado pode “suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal”. No artigo 49, determina que é da competência do Congresso Nacional “zelar pela preservação de sua competência legislativa em face da atribuição normativa dos outros Poderes”.
  6. Diante dessas evidências constitucionais e da história da tramitação da PEC na Câmara, fica a pergunta: quem está ameaçando quem? É o Congresso que investiu contra o STF, ou o contrário?
OSVALDO LUIZ RIBEIRO

5 comentários:

Anônimo disse...

Interessante perceber como cada um leva os fatos a dizerem o que suas convicções querem. O que se sabe é que existem centenas de projetos na fila de espera de votação. Alguns com verdadeiras atrocidades temáticas. De tempos em tempos alguns, devido as circunstâncias do momento e ao contexto vão na gaveta dos arquivo fétidos e pegam algum tema que os favoreça em seguida levando a alguma comissão como a CCJ repleta de mensaleiros trazendo a publico e forçando alguma artimanha política, como é o caso. Datas de criação de projetos não querem dizer nada e sim quem tirou da gaveta das imundícias para fazer uso político delas.

abçs
Fabiano

Peroratio disse...

"Repleta". Incluída a presidência? É do PSDB, que inaugurou o "mensalão", mas tem amigos na corte...

O resto é catar feijões...

Anônimo disse...

Concordo plenamente. Não tem santo nesse jogo, afinal o esquema é esse e quem não juntar... espalha. Antes, pelo menos, tentavam disfarçar um pouco mais. Hoje é ofensivo o descaramento com que tratam crimes de toda ordem.

Peroratio disse...

Não sei se todo o peso de seu olhar deriva de uma posição política ou se se trata apenas de não perceber que é a mídia e nada mais do que a mídia.

Ela está e sempre esteve ao lado do PSDB. Só a Privataria dá mais do que 1.000 "mensalões" (que, a despeito de seu juízo, ainda está por se provar).

A mídia, sistematicamente, ataca virulentamente tudo o que o PT e seu governo fazem e esconde descaradamente todos os podres do PSDB.
Agora, para coroar, controlam o STF...

Acho que todo seu juízo deriva apenas de movimentos controlados pela mídia.

Não vê: dois componentes da comissão são acusados e condenados provisórios do "mensalão" e você usa a palavra" repleto". É só eles dois que você vê...

Anônimo disse...

Osvaldo,

Não sou de esquerda nem de direita, apenas não tapo o sol com a peneira. Não enxergo as coisas como se fosse o bem contra o mal nesse caso, nem percebo complô contra o PT nem PSDB, pelo contrário, vejo a imprensa nacional e internacional noticiando aspectos as vezes controversos, mas que em boa parte das vezes são convergentes. Não sei, nesse caso, o que você chama de mídia, pois qualquer meio de divulgação de notícias pode ser chamado assim, inclusive o que você usa. O mensalão sempre existiu, mas com o PT não foi diferente, pois o proliferou chegando a sua cúpula, mas somente o Lula não sabia, com a ingenuidade que lhe é peculiar. Inconcebível essa ignorância no mundo político e empresarial. A imoralidade é tamanha que o PT indica dois mensaleiros na principal comissão, isso os que nós sabemos por isso digo repleto.Deus sabe o grau de comprometimento escuso que o partido tem com essas figuras. Dilma é um elemento que engole o PT por estar lá graças ao Lula e de certa forma tem que rezar na cartilha, mas a história dela no PT é diferenciada e por isso ela não tem facção dentro do partido. Enfim, respeito muito suas opiniões e o considero muito saiba disso, mas suas opiniões políticas não são criticas e independentes doa a quem doer, como é na teologia. Dizer que o PSDB controla o STF é meio extremo demais, pois a maioria dos ministros são indicações do PT.Não acreditar no mensalão é o mesmo que acreditar que o homem nunca colocou o pé na lua. A coisa já está julgada. Existem coisas boas e ruins em ambos os lados. A retórica do nordestino pobre que chegou a presidência já foi corrompida há muito tempo.

abraços,
Fabiano

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