sábado, 2 de março de 2013

(2013/186) Não era metáfora, eles acreditam mesmo


1. No futuro, quando a religião tiver sofrido a transformação que é inelutável para ela sofrer, quando lerem textos sobre nossa época e tomarem ciência de que, dentro de templos, falávamos com os deuses e eles conosco, vão dizer que era metafórica a coisa, que, no fundo, sabíamos que não.

2. Será um engano deles. Porque eles mesmos terão compreendido a que se resume a liturgia e a terão transformado a partir dessa consciência, terão a nova situação por tão óbvia que lhes custará compreender que nos entregássemos a um teatro tão óbvio...

3. Dá-se o mesmo conosco em relação ao passado bíblico. Hoje, pensamos em Deus como espírito, invisível, sem forma, sem corpo, e, quando lemos os textos bíblicos, é tudo ao contrário - Deus tem forma, tem mão, tem corpo.

4. O que fazemos? Automaticamente, dizemos que lá era tudo metafórico, que não era assim que eles criam - era um modo de falar de Deus...

5. Nada disso. É falso. Eles criam daquela forma. Criam que Deus tinha forma, tinha braço, perna, mão, coração. Que andava. Que comia. Até que fazia sexo. Não era um jeito retórico de dizer as coisas - era a forma como eles criam na coisa.

6. Tudo mudou. Mudando tudo, menos os textos, forçamos os textos a concordar conosco. No futuro, talvez se dê a mesma coisa - a religião mudará, não tenho dúvida, e, então, talvez os religiosos do futuro tenham a tentação de fazer de nós o mesmo que eles serão.

7. Mas não. Nós somos, ainda, esses brutos a falar para paredes... e a dar explicações muito espirituais para isso...

8. Ontem, metáforas um cabrito para Deus. Hoje, conversamos com ele. Se você acha que são duas coisas muito diferentes na essência, não entende nada da coisa: apenas a experimenta. Como uma comida que você come e não tem a mínima ideia do que é feita...







OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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