terça-feira, 4 de setembro de 2012

(2012/665) Vamos usar a metáfora da Bíblia como cocaína?


1. Eu mesmo, quando vi a foto da Bíblia sendo "cheirada", senti um arrepio de indignação e "nojo". Achei-a, de pronto, de péssimo gosto, e o disse no facebook. Todavia, um senhor golpe de marketing, ainda que não tenha sido programado - mas essa igreja vai aumentar exponencialmente seus seguidores por conta desse golpe de sorte midiático, essa mídia gratuita que a exposição da imagem renderá. Nossa massa popular está pronta para essas coisas. Quanto mais escabrosa, mais seguidores. É a época dos shows, das imagens, da loucura completa...

2. Aqui, quero aproveitar a "onda" e usar a metáfora da Bíblia como droga...

3. E é. A Bíblia, cheirada, fumada, picada na veia, é vendida em diversas bocas denominacionais. Vende tanto a droga, que já não é possível nem falar em bocas denominacionais apenas, que ainda há, e muitas, mas em bocas empreendedoras, de iniciativa privada - qualquer um abre uma boca e vende a sua droga...

4. Nessas bocas - denominacionais ou empreendedoras, de CNPJ ou CPF, tanto faz - só se vende um tipo de droga: você usa assim, e todo mundo que ali consome a droga consome daquele jeito. Na outra boca, ensina-se a cheirar com canudinho. Na outra, picada na veia. Na outra, adesivo na pele. Na outra, num narguilé espiritualóide.

5. Se alguém denuncia a venda de droga, um auê se instala. Usar a droga de modo alternativo, crítico, não: não pode. Fuma, até os olhos ficarem brancos... Seguem-se orgias espirituais...

6. A foto pode chocar - e choca, porque é de baixíssimo nível. Mas é reveladora. É exatamente isso em que a Bíblia se tornou - uma droga...

7. Já vejo os tradicionais se levantarem de suas cadeiras, horrorizados - Osvaldo nos põe no mesmo nível desse "doido". Sei que a reação virá, porque é o mesmo com as igrejas neo - quando digo que é tudo a mesma coisa (em certo nível de análise), aborrecem-se. Mas é tudo a mesma coisa (em certo nível de análise). Da mesma forma como todos vendem a mesma coisa como droga...

8. Drogas de constituição química, dosagem e efeito diferenciado - mas, tudo, droga. Você não pode, nunca ficar sóbrio: é para embebedar-se - e quanto mais loucura, quanto mais maluquice, melhor.

9. Mas o conceito de droga é muito fluido, e você não precisa pensar exclusivamente em cocaína, como a foto-imagem sugere. Pode ser álcool - o álcool do Espírito, que embebeda -, pode ser cafeína - a cafeína do ativismo alucinado -, pode ser anfetaminas e comprimidos para dormir - e quanto não se dorme a vida inteira, embalado em fantasias!

10. Quando, em plena era e guerra do ópio, Marx usou a metáfora dessa droga para a religião, não imaginava que inaugurava - se é que ela não fora usada antes - uma metáfora apropriadíssima para os séculos XIX, XX e, sobretudo, esse nosso, XXI, sociedade de consumo de droga. Entre elas, essa, que, agora, sequer se constrange de ir a público confessar sua condição narcótica.

11. Fuma, não, gente. Cheira, não! Pica, não, gente! Leia, leia com seriedade, com crítica, desmonte de sobre ela o jugo narcótico, o encantamento entorpecente. Desnude esse livro, ele e seus gerentes: acerte as contas com a sua tradição...

12. Se eu acredito que vai acontecer? Não. Nem um pouco. A tendência é piorar - porque, quando você acha que já viu de tudo, nem imagina o que está por vir...

13. O quê? Você tinha medo do anti-cristo... Então espera para ver o reino evangélico...

14. Porque, por favor, preste atenção: você pode ir ao Santo Daime, tomar o "soma" do cipó enteógeno, ficar muito doido, viajar até Andrômeda, vomitar horrores, ver as mirações que desejar ver, tudo bem, que, depois do rito, você volta para casa e a vida continua na normalidade. O rito fica lá, no lugar do rito...

15. A desgraça - DESGRAÇA - dessa coisa evangélica - e cada vez mais demente - é que a loucura não fica lá no lugar da loucura: ela quer invadir a sociedade, o Legislativo, o Judiciário, o Executivo, a minha casa, a sua, a minha mente, a sua - não é penas droga, é doença.

16. Não, não haverá cura. Sou pessimista.

17. Oxalá um péssimo filhote de Nostradamus...




OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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