sábado, 28 de janeiro de 2012

(2012/092) Damásio, um artigo meu sobre Hermenêutica e Consciência e colegas meus se divertindo às minhas custas



1. Em 2009, João Leonel, professor do Mackenzie, organizou uma coletânea temática. Trocando figurinhas com o Ronaldo Cavalcanti, acabei entrando - e, convenhamos, só assim muito indiretamente, reconheço, o tema do artigo se relaciona ao da coletânea. Mas isso se soube à época, e não se considerou problema. O artigo entrou. E pode ser lido aqui, com ligeira alteração na Introdução: "O Complexo Hermenêutica e Consciência - da viscosidade úmida dos mundos" (em: João Leonel, Novas Perspectivas sobre o Protestantismo Brasileiro, Fonte Editorial/Paulinas, 2009, p. 383ss).

2. Foi um artigo que me deu trabalho para escrever, mas muito mais prazer. Já o reli umas dez vezes. Hoje, acho que ele tem um tom um tanto empolgado. Podia ser mais ameno, mais técnico - e, por isso mesmo, mais chato. Mas é o que foi escrito, na forma como foi, e, constrangimento pelos arroubos retóricos à parte, gosto dele.

3. Como não há discussão no Brasil sobre os artigos, ninguém comenta ninguém, ninguém critica ninguém, você pouco fica sabendo sobre a quantas anda a recepção do que você publica. Soube (não me lembro mais por quem) que Zwinglio Mota Dias, da Universidade Federal de Juiz de Fora, andou com ele não mão, a perguntar pelo autor - mas não entrou em contato (logo, não sei se o interesse era de saber quem tinha escrito algo tão interessante ou quem era o maluco a dispersar tolices pelo mercado).

4. Além dessa informação sobre a repercussão do texto, há uma outra, bastante próxima - colegas meus, de cátedra, andam a mangar de mim, divertindo-se, um tanto quanto sarcasticamente, do subtítulo que dei ao artigo: "da viscosidade úmida dos mundos". Não sei se leram o texto ou só o título, mas já me deram umas três ou quatro tiradas de humor por conta dessas umidades...

5. Mas tinha que ter umidade ali: falava do corpo humano, do processo por meio do qual a psiquê se apropria desse corpo, tomando-o para si. Falava dos hormônios, dos neurotransmissores, das gosmas da carne, das quais saímos e as quais somos nós - sempre e ainda. Trata-se de um texto que tenta inverter o caminho da discussão sobre Hermenêutica, cada vez um caminho mais fantasmagórico, impalpável, quase o resultado de uma sessão de LSD. Inverter o caminho, para mim, é procurar os processos hermenêuticos dentro da cabeça humana, num sentido além-schleiermacheriano, enamorando-me, invejoso, das pesquisas em neurociências (de que Schleiermacher não dispunha).

6. Mas meus amigos são teólogos - entendem mais de anjos que de corpos humanos, eu compreendo. Anjos, eu dizia no artigo, não têm gosmas, líquidos, não são viscosos, não têm genitais, emulsões, não ejaculam nem têm líquidos lubrificantes, não suam - são assépticos, hospitalares e brancos... Logo, tratar de viscosidades constrange.

7. Agora, vejam vocês, depois de eu tentar compreender como a Hermenêutica está ligada à Consciência na forma de um Complexo, ambas, tanto quanto o próprio Complexo, dependentes do corpo, eis o que leio em E o Cérebro Criou o Homem, de António Damásio:
Esse mapeamento do corpo pelo cérebro tem um aspecto singular e sistematicamente menosprezado: embora o corpo seja a coisa mapeada, ele nunca perde o contato com a entidade mapeadora, o cérebro. Em circunstâncias normais, os dois estão ligados do nascimento à morte. Igualmente importante é o fato de que as imagens m,apeadas do corpo têm um modo de influenciar permanentemente o próprio corpo em que se originam. É uma situação sem igual. Não tem paralelo nas imagens mapeadas de objetos e fenômenos externos ao corpo, que nunca podem exercer influência direta sobre esses objetos e fenômenos. Acredito que qualquer teoria da consciência que não leve em conta esses fatos está fadada ao fracasso. (p. 119).

8. Bem, se acrescentarmos a essa descrição mais clean de Danmásio os líquidos todos de que esse corpo se constitui - 70% dele é água.; se nos dermos conta de que, quando falamos de líquidos, estamos, também, falando de libido; se nos dermos conta de que consciência e corpo são grandezas carregadas de sensualidade - são o território de Eros: bem, como falar disso senão por meio da referência à viscosidade úmida dos mundos?



OSVALDO LUIZ RIBEIRO

Um comentário:

Robson Guerra disse...

Oi, Osvaldo

Rapaz que resposta aos seus amigos, hein: "Mas meus amigos são teólogos - entendem mais de anjos que de corpos humanos". Boa, muito boa...rsrsrsrs... Um direto no queixo, tipo o chute que o Anderson Silva aprendeu com o Seagal...rsrsrsr

Um abraço!

Robson Guerra

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