domingo, 8 de maio de 2011

(2011/274) Um Ocidente pós-protestante para ser verdadeiramente protestante


1. O Ocidente crítico é filho da Hipocrisia protestante. Podia ter sido filho da Norma católica. O Protestantismo, ele mesmo, é filho da Norma "católica" (a rigor, senhores, "cristã"). Ou seja: tanto faz - seja reagindo à opressão, seja aproveitando-se da retórica dos pais, a autonomização sempre pode emergir. No nosso caso, aproveitou-se da Hipocrisia das palavras protestantes - levou a sério seus valores retóricos...

2. No caso específico do nosso Ocidente, tal qual ele é, é filho da Hipocrisia. O Protestantismo constitui-se dessa alma fundamental. Seu destino, parido pelo gesto fundador do "Pai", é dizer uma coisa, fazer outra. Não é o que ele diz que vale - é o que ele faz. Mas ele diz. E, dizendo-o, dá azo a que esse dito seja levado a sério.

3. E foi. O que é que há no Ocidente moderno que não seja criação dessa Hipocrisia protestante? Isto é, que não esteja inserido dentro da retórica protestante? Todos os valores ocidentais não nasceram justamente aí, nessa retórica?

4. Não, que bíblicos que nada! Os valores de emancipação, crítica, liberdade, nada disso é valor bíblico - os valores bíblicos são valores de submissão, de obediência - um livro sacerdotal, mesmo quando se diz profético. Há, sim, gritos aqui e ali, gritos de liberdade, eventualmente verdadeira liberdade: mas nunca foram ouvidos. Nem os do Filho, em cuja boca pousaram gritos tradicionais de emancipação, se ouviu. Liberdade, aí, é pura retórica!

5. Hipocrisia. O Protestantismo, pudesse, matava o Ocidente, seu filho, e recolhia-se ao útero medieval de onde saiu. Mas não pode, porque o Ocidente repousa sobre as palavras protestantes - não, naturalmente, sobre o espírito. De modo que qualquer ocidental pode recorrer ao dicionário protestante para angariar força de resistência contra... o protestante típico.

6. Ironia! O Protestantismo gera o Ocidente, que é tudo, menos protestante - é pós-protestante, mas - não? - autenticamente protestante. Para fazer-se verdadeiramente protestante, teve de deixar de ser protestante.



OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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