1. Coisa curiosa aquilo em que se tornou a tradição. Tornou-se "Tradição", com fundamento "hermenêutico" e tudo. E eu quero gastar duas palavras, aqui, para mostrar uma ironia, ou uma incoerência, nessa história de "tradição"...
2. Uma coisa é o homem viver dentro de uma "tradição" - e vive. Não há homem que não viva dentro de uma - a sua - tradição. Mas uma coisa é você viver dentro de uma tradição que vai "acontecendo". Outra, é você viver numa "tradição" que tem de ser justificada inexoravelmente num "livro".
3. Lá atrás, quando o livro, quando pedaços dele, eram escritos, dizia-se uma coisa. Falava-se, por exemplo, do "espírito" de Yahweh ou da "criação". Sim, é verdade - os textos falam disso. Todavia, o que falavam disso, quer seja o "espírito de Yahweh", quer seja da "criação", nada - absolutamente - nada tem a ver com o que disso falamos nós hoje. Nada. O que é natural, já que lá se vão dois mil, mais 500, anos...
4. A "desgraça", eu diria, é termos de dizer que "espírito de Yahweh" e "criação" são coisas importantes e que o são porque estão "revelados" no texto sagrado - quer dizer: é porque estão lá que são importantes (é importante observar esse "detalhe"). Se o texto falasse do "cocô sagrado", cocô sagrado seria importante - "porque estaria lá"...
5. Mas, aí, você vai ler os textos e descobre que o que os textos falam, de um lado, de "espírito de Yahweh", e, de outro, de "criação", não é o que hoje dizemos deles. Os judeus não eram exatamente cristãos... obviamente...
6. E eis dois fenômenos curiosos. Primeiro: a tradição não é a manutenção do passado: é o uso programático-instrumental de seus tijolos, mas no processo de atualização do conteúdo e da funcionalidade desses tijolos. Com isso quero dizer que as palavras "espírito" e "criação" permanecem, mas o sentido delas, ah!, não tem mais nada a ver com os "originais"...
7. Ora, mas se o sentido delas não tem mais nada a ver com o sentido que tinham, porque tenho que me ater ao texto? Se o sentido é novo, se ele não está no texto, se ele veio da vida das comunidades, porque me fazer unir, "fraudulentamente", a palavra velha - do texto - com o sentido novo - da tradição? A "revelação" foi "revelação" de "palavra oca", mas o sentido é como a "moda"?
8. Observem a incoerência: escrevo textos para falar do "espírito" e da "criação" como que "bíblicos", ressaltando sua "relevância", e isso porque estão lá, na Palavra de Deus, mas, na verdade, o que aquelas palavras lá diziam não é mais o que as mesmas, cá, dizem: assim, faço meu leitor achar que estou falando de sentidos bíblicos, quando, na verdade, estou falando de palavras ocas da Bíblia, insufladas pela transformação de sentido que sofreram na história.
9. Mas, se o sentido delas é outro que não mais aquele da Bíblia, por que raios tenho de escrever como se fossem da Bíblia? É a Bíblia meu relógio de hipnose?
10. Primeiro que nem tudo que lá está se aceita - está lá que mulheres devem ficar caladas na igreja, que a vida eterna se adquire vendendo-se todos os bens e doando aos pobres, essas coisas, mas, apesar de lá estarem, não nos dizem nada. Mas há coisas que lá estão, mas com sentidos outros, e fazemos de conta que lá estão com os sentidos que damos a elas... porque queremos usá-las, sabe Deus pra que...
11. Tradição... Sei. Livros sobre o "Espírito", com citações do AT... sei. Sobre "criação", com citações do AT - sei... Onde é que viemos parar, meu Deus?
12. Penso que há uma maldição no Protestantismo - é sua condenação eterna: são prostáticos tradicionais - o que vale é sua tradicionalíssima, própria, idiossincrática forma de ver o mundo, cada protestante um ouvido e boca de Deus, a tradição é o que escorre de seus olhos e narizes, ele, protestante, é a própria tradição e Deus, mas tem de dizer que é da Bíblia que se trata (mas é nada!), e isso porque desgraçou a tradição (ah!), lutando contra ela, quando matava o Papa e a Igreja. Assim, o protestante é o neurótico esquizofrênico que está fadado a viver em seu próprio vômito, mas terá de dizer que essa tradição em que vive é a Bíblia viva, porque não pode suportar o sentido histórico da Bíblia, nem pode assumir como tradição a tradição que vomita.
13. Moral da história: nem a Bíblia nem a tradição, conquanto ele viva na tradição e diga viver na Bíblia. A Teologia faz-se manicômio...
13. Pobre homem.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
PS. problema de saúde pública: teólogos "práticos" fazem "aconselhamento pastoral"...
2. Uma coisa é o homem viver dentro de uma "tradição" - e vive. Não há homem que não viva dentro de uma - a sua - tradição. Mas uma coisa é você viver dentro de uma tradição que vai "acontecendo". Outra, é você viver numa "tradição" que tem de ser justificada inexoravelmente num "livro".
3. Lá atrás, quando o livro, quando pedaços dele, eram escritos, dizia-se uma coisa. Falava-se, por exemplo, do "espírito" de Yahweh ou da "criação". Sim, é verdade - os textos falam disso. Todavia, o que falavam disso, quer seja o "espírito de Yahweh", quer seja da "criação", nada - absolutamente - nada tem a ver com o que disso falamos nós hoje. Nada. O que é natural, já que lá se vão dois mil, mais 500, anos...
4. A "desgraça", eu diria, é termos de dizer que "espírito de Yahweh" e "criação" são coisas importantes e que o são porque estão "revelados" no texto sagrado - quer dizer: é porque estão lá que são importantes (é importante observar esse "detalhe"). Se o texto falasse do "cocô sagrado", cocô sagrado seria importante - "porque estaria lá"...
5. Mas, aí, você vai ler os textos e descobre que o que os textos falam, de um lado, de "espírito de Yahweh", e, de outro, de "criação", não é o que hoje dizemos deles. Os judeus não eram exatamente cristãos... obviamente...
6. E eis dois fenômenos curiosos. Primeiro: a tradição não é a manutenção do passado: é o uso programático-instrumental de seus tijolos, mas no processo de atualização do conteúdo e da funcionalidade desses tijolos. Com isso quero dizer que as palavras "espírito" e "criação" permanecem, mas o sentido delas, ah!, não tem mais nada a ver com os "originais"...
7. Ora, mas se o sentido delas não tem mais nada a ver com o sentido que tinham, porque tenho que me ater ao texto? Se o sentido é novo, se ele não está no texto, se ele veio da vida das comunidades, porque me fazer unir, "fraudulentamente", a palavra velha - do texto - com o sentido novo - da tradição? A "revelação" foi "revelação" de "palavra oca", mas o sentido é como a "moda"?
8. Observem a incoerência: escrevo textos para falar do "espírito" e da "criação" como que "bíblicos", ressaltando sua "relevância", e isso porque estão lá, na Palavra de Deus, mas, na verdade, o que aquelas palavras lá diziam não é mais o que as mesmas, cá, dizem: assim, faço meu leitor achar que estou falando de sentidos bíblicos, quando, na verdade, estou falando de palavras ocas da Bíblia, insufladas pela transformação de sentido que sofreram na história.
9. Mas, se o sentido delas é outro que não mais aquele da Bíblia, por que raios tenho de escrever como se fossem da Bíblia? É a Bíblia meu relógio de hipnose?
10. Primeiro que nem tudo que lá está se aceita - está lá que mulheres devem ficar caladas na igreja, que a vida eterna se adquire vendendo-se todos os bens e doando aos pobres, essas coisas, mas, apesar de lá estarem, não nos dizem nada. Mas há coisas que lá estão, mas com sentidos outros, e fazemos de conta que lá estão com os sentidos que damos a elas... porque queremos usá-las, sabe Deus pra que...
11. Tradição... Sei. Livros sobre o "Espírito", com citações do AT... sei. Sobre "criação", com citações do AT - sei... Onde é que viemos parar, meu Deus?
12. Penso que há uma maldição no Protestantismo - é sua condenação eterna: são prostáticos tradicionais - o que vale é sua tradicionalíssima, própria, idiossincrática forma de ver o mundo, cada protestante um ouvido e boca de Deus, a tradição é o que escorre de seus olhos e narizes, ele, protestante, é a própria tradição e Deus, mas tem de dizer que é da Bíblia que se trata (mas é nada!), e isso porque desgraçou a tradição (ah!), lutando contra ela, quando matava o Papa e a Igreja. Assim, o protestante é o neurótico esquizofrênico que está fadado a viver em seu próprio vômito, mas terá de dizer que essa tradição em que vive é a Bíblia viva, porque não pode suportar o sentido histórico da Bíblia, nem pode assumir como tradição a tradição que vomita.
13. Moral da história: nem a Bíblia nem a tradição, conquanto ele viva na tradição e diga viver na Bíblia. A Teologia faz-se manicômio...
13. Pobre homem.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
PS. problema de saúde pública: teólogos "práticos" fazem "aconselhamento pastoral"...
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