quarta-feira, 8 de abril de 2020

(2020/049) Por causa do feriado religioso

Há trocentas religiões. Apenas em um sentido se pode colocar todas no mesmo saco: todas elas imaginam um mundo além deste mundo, digam sobre ele o que disserem, e constroem para este códigos de vida com base no que imaginam para aquele. É o império do faz-de-conta (que pra o religioso não é faz-de-conta, claro está) sobre o real.

Ah, o real. O século XX é o século do Hinduísmo e do Budismo fazendo passar sua filosofia sobre o Ocidente. O real é maya, ilusão. É a tese fundamental do extremo oriente, e ela é reacionária até a próstata. A única realidade real é a do outro lado, a imaginária, chamada de "espiritual". Esse pensamento contaminou tudo no século XX, e quanto mais se fazia força para a religião sair da praça, mais essa filosofia ocupava os bancos vagos. Porque o discurso científico de que a realidade é ilusão é, na verdade, Hinduísmo secularizado. A pós-modernidade vive em castas!

Não apenas ilusão, e a realidade pode ser moldada. É o que eles dizem. O cara que inventou o Pensamento Positivo se matou. Pelo visto, não funciona. Outro, pastor de uma das maiores igrejas do mundo, na Coreia, David Yonggy Cho e praticamente toda a diretoria da igreja foram condenados - mas são velhos demais para as grades - por terem fraudado a igreja, a despeito de terem ensinado milhões no mundo a orar de modo eficiente. Pelo jeito, precisaram de artifícios do demônios, porque a técnica de bosta que inventariaram só funciona para enganar bobo. Mais próximo dos livros, os que se encantam com a religião tudo é interpretação, tudo é metáfora vão se cagando de medo do SARS-Cov-2. Também essas patacoadas cripto-religiosas não funcionam.

Na verdade, tudo isso é tão velho quanto andar pra frente. As pessoas querem crer. Elas querem boas notícias, adoram ser enganadas. A ralidade dói demais. Já se disse que os fatos são amigos (Carl Roger), mas as pessoas não são amigas dos fatos, e preferem mil conversas e lorotas religiosas, mil promessas fáceis, porque a vida é uma merda só. Não precisa ser. Mas é. E é também por um acordo tácito (às vezes, assinado mesmo, pelo qual até religiões podem ganhar um país inteiro, murado, bonito, no meio da Itália) entre pilantras da política e do governo e pilantras da fé e da religião: a religião promete que os deuses estão no controle, a despeito dos diabos, e o poder instalado pode deixar morrer dez mil à tua direita, dez mil à tua esquerda, que já aprendemos na Bíblia que fodam-se os da direita e os da esquerda, que meu deus é mais!

As modas passam, o auto-engano permanece, e não sei se algum dia ele será superado. Eu queria que sim, Marx dizia que com certeza será, e os amigos dessa operação status quo alegram-se de que tão cedo ele não se vá, que os templos se enchem, se não no Velho Mundo, certamente no Novo e nas terras de ninguém...

Vamos comer peixe, que é Semana Santa. O peixe, criação divina, dizem, eu mato e como, e louvo. O SARS-Cob-2, também criação divina, me come vivo e eu não louvo. Não faz sentido nenhum... Mas está tudo bem. O mundo é maya mesmo, não é?










OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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