quinta-feira, 26 de março de 2020

(2020/040) Nem graça nem lei


Nem graça nem lei, ou nem lei nem graça. A disputa milenar dos cristãos, ou, dito de outro modo, a turma de Tiago e a turma de Paulo nos impuseram um jugo, que, a rigor, se revela falso. Não é que seja falsa a polaridade, como se não é que seja uma questão de escolher entre a graça ou a lei, mas que ambas devem andar de braços dados. Não se trata disso. É mais que isso. O que é preciso é assumir definitivamente que não é nem uma questão de graça nem uma questão de lei. Nem graça nem lei.

A dicotomia graça e lei resulta de duas tentativas de superar a condição humana conforme vista em específicas tradições judaicas. No fundo, são soluções mitológicas para um problema mitológico. São soluções compreensíveis para quem opera racionalizações dentro do mito judaico. Fora do mito judaico, não há nenhum sentido nem na lei nem na graça. Paulo e Tiago podem ir dormir, que seu turno de trabalho acabou.

Na condição moderna, não estamos, nós humanos, presos a qualquer mito religioso, já que descobrimos que mitos religiosos são mitos que inventamos. Se inventamos, e inventamos mesmo, então desinventamos, e vamos viver livres dessas camisas-de-força. Não é preciso um caminho da lei ou um gesto de graça para que sejamos o que já somos. Não há do que ser salvo e não há caminho a ser trilhado que não aquele que nós mesmos inventamos de trilhar... Para o bem e para o mal, boa ou má, com altos e baixos, esta é a condição humana, e não há como alterar isso ou tratar isso como um suposta queda, nem no mito nem nas paródias metafóricas pós-modernas. Acabou. Crescemos. O mundo se tornou adulto, e nós, também.

Seria muito curioso sentar com Jersus e perguntar a ele o que ele achava realmente de Tiago. Quanto a Paulo, desse ele diria: mas quem é esse Paulo de quem nunca ouvi falar?






OSVALDO LUI RIBEIRO

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