É preciso ler "contra" a vontade de quem escreve.
Difícil de entender?
Bem, a leitura tem dois momentos: entender exatamente o que quem escrever disse e entender as intenções dele com isso que escreveu...
São dois momentos distintos, mas devem estar juntos o tempo todo: jamais abrir a guarda diante de um texto - jamais!
Um exemplo (e eu nunca vi a preocupação quanto a isso nos comentários ao livro bíblico): Hebreus. Logo no primeiro verso, lê-se que Deus, tendo outrora falado por meios dos profetas, naqueles dias, que eram os últimos, falou a eles, isto é, à comunidade para quem o autor do livro escreve, através do Filho: "falou-nos por meio do Filho".
Não abrir a guarda - jamais!
Como assim "por meio do Filho"?
Aceitemos a Cristologia, vá lá. Quando Hebreus é escrito, já vão 75 anos que o Filho morreu. O Filho não está mais disponível para falar à comunidade...
Mas Deus fala por meio do Filho, é o que o autor diz. Bem, então, quem é o Filho? Quem é que, na prática, fala à comunidade? Óbvio - como sempre! -: ele, o clero, eventualmente (alguém duvida?), o autor da carta...
Diversionismo político-religioso. O sujeito fala à comunidade como se fosse o Filho. Não, ele não se confunde diretamente com o Filho, mas ele se apresenta como o portador da voz do Filho, o intérprete de sua vontade. Ele lê os rolos e fala - e, falando ele, é o Filho falando...
E a comunidade ouve isso, aceita isso e se engana com isso...
Não vá, todavia, o leitor ser tão ingênuo...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
Nenhum comentário:
Postar um comentário