quarta-feira, 13 de novembro de 2013

(2013/1354) Berçário de estrelas em imagem espetacular

A maioria das estrelas não se forma isoladamente mas sim em grupo, com todos os elementos criados essencialmente ao mesmo tempo a partir de uma única nuvem de gás e poeira. O NGC 3572, na constelação austral de Carina (a Quilha), é um destes enxames que contém muitas estrelas quentes jovens azul-esbranquiçadas. Estas estrelas brilham intensamente e emitem poderosos ventos estelares que tendem a dispersar o gás e a poeira que ainda restam na sua região circundante. As nuvens de gás brilhante e o enxame de estrelas que as acompanha são o assunto desta nova fotografia obtida com o instrumento Wide Field Imager, montado no telescópio MPG/ESO de 2,2 metros instalado no Observatório de La Silla, no Chile [1].

Na parte inferior da imagem pode ver-se um grande pedaço da nuvem molecular que deu origem a estas estrelas. Esta parte da nuvem foi dramaticamente afetada pela forte radiação emitida pelas suas filhas ardentes. Para além de a fazer brilhar com uma cor assaz caraterística, a radiação esculpe igualmente a nuvem em extraordinárias formas intricadas, incluindo bolhas, arcos e colunas escuras, conhecidas pelos astrónomos como trombas de elefante [2].

Nesta imagem capturou-se uma estranha estrutura que pode ser vista ligeiramente acima do centro da imagem: uma nebulosa muito pequenina em forma de anel. Os astrónomos ainda não sabem ao certo qual a origem desta curiosa estrutura, pensando-se, no entanto, que se trata provavelmente do resto denso da nuvem molecular que formou o enxame, talvez uma bolha criada em torno de uma estrela quente muito brilhante. Alguns autores pensam que pode ser um tipo de nebulosa planetária - os restos de uma estrela moribunda [3] - com uma forma estranha.

As estrelas que nascem no interior de um enxame podem ser irmãs mas não são gémeas. Têm quase a mesma idade mas diferem em tamanho, massa, temperatura e cor. O percurso de vida de uma estrela é determinado em grande parte pela sua massa, por isso um determinado enxame conterá estrelas em várias fases das suas vidas, fornecendo aos astrónomos um laboratório perfeito para estudar a evolução estelar [4].

Nestes grupos as estrelas jovens mantêm-se juntas durante um tempo relativamente curto, tipicamente da ordem das dezenas ou centenas de milhões de anos. O grupo acaba por se separar devido a interações gravitacionais, mas também porque as estrelas de massa mais elevada têm uma vida curta, queimando o seu combustível muito depressa e terminando as suas vidas sob a forma de violentas explosões de supernovas, contribuindo assim para a dispersão do restante gás e estrelas que ainda permaneciam no enxame.

Notas

[1] Os dados utilizados para criar esta imagem foram obtidos por uma equipa liderada pelo astrónomo do ESO Giacomo Beccari. A equipa usou o poder do Wide Field Imager para estudar a física dos discos protoplanetários nas estrelas jovens do NGC 3572. Foi uma surpresa descobrir que o enxame contém estrelas mais velhas do que dez milhões de anos ainda a acretar massa, o que significa que tais estrelas estão ainda rodeadas por discos. Este facto diz-nos que a formação estelar neste enxame dura há, pelos menos, 10-20 milhões de anos e sugere que o processo de formação planetária pode ocorrer em escalas de tempos muito mais longas do que o que se pensava anteriormente.

[2] Os exemplos mais famosos de tais estruturas em tromba de elefante são os Pilares da Criação na Nebulosa da Águia, que foram capturados com um detalhe extraordinário pelo Telescópio Espacial da NASA/ESA (http://www.spacetelescope.org/images/opo9544a/).

[3] Quando uma estrela do tipo do Sol gasta todo o seu combustível, liberta as suas camadas exteriores para o espaço circundante. Os restos quentes da estrela continuam a brilhar intensamente no seio deste material, criando bonitas conchas brilhantes de gás ionizado, de curta duração, e formando as chamadas nebulosas planetárias. Este nome de origem histórica está relacionado com a aparência destes objetos quando vistos através de um pequeno telescópio, não tendo qualquer relação física com um planeta.

[4] O tempo de vida de uma estrela depende dramaticamente do quão pesada ela é. Uma estrela com cinquenta vezes mais massa do que o Sol terá um tempo de vida de apenas alguns milhões de anos, enquanto que o Sol viverá cerca de dez mil milhões de anos e estrelas anãs vermelhas de pequena massa podem viver biliões de anos - muito mais do que a idade atual do Universo.







OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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