Miguel acabara de recortar a Bíblia em tiras, tipo biscoitos da sorte. Gabriel terminou de dobrar os papeizinhos e de os pôr na vasilha. Um dos serafins aproximou-se de Deus e lha entregou.
_ E agora, Deus?
_ Vamos começar. Peguem os nomes de todos os crentes. Você pega um nome e eu tiro um versículo - o que sair, é destino dele.
_ Mas e se sair coisa ruim?
_ Sou soberano.
_ Mas e se sair maldição?
_ Sou soberano.
_ Mas e saírem aquelas pragas todas?
_ Está dito.
_ Mas e se sair condenação?
_ Também.
_ Mas e se sair ordens de matar?
_ Saia o que sair, cumpra-se...
_ Mas por que o Senhor decidiu fazer isso?
_ Você quer dizer, além do fato de seu ser eu?
_ Sim, desculpe-me...
_ Enchi o saco. Os crentes pegam a Bíblia, cortam elas em tirinhas, selecionam uns para si e outros para os outros. Para eles, o mel, para os outros, o fel. Cansei. E ainda fazem isso em meu nome. Decidi dar a eles a chance de receberem, por sorte, o que aplicam aos outros. Talvez, assim, aprendam...
_ Não era melhor ter escrito uma Bíblia sem maldição, praga, morte, destruição, violência, estupro, assassinato, crueldade...?
_ E quem ia ler?
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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