Sempre ouço que o outro nos faz humanos, que nossa humanidade se constrói em relação a um outro.
Sim e não e, ao mesmo tempo, não apenas o outro.
Não: porque o outro pode ser, para nós, apenas objeto - vejam os aristocratas.
Não: porque posso selecionar outros que considero outros e outros que considero coisas: como fizemos com os negros.
Sim, porque sem o outro não nasce em mim o impulso do reconhecimento de um outro-eu que, posto ser um eu, ainda que outro, impõe-me que seja respeitado.
Isso exige, então, que eu acrescente outro elemento: o tempo. O outro me constrói no tempo. Sem o tempo, não há condições de a espécie aprender a construir a sua identidade, a sua alteridade, um em face do outro. Mais do que o outro, o tempo nos faz.
Mas apenas o outro e o tempo? Não. O real nos faz. Nascemos indiferenciados, sem a consciência de nosso recorte em relação ao meio. É o processo psicológico-biológico-somático de recortar-nos do meio e de, então, adquirir a consciência do meio, do real, do mundo que nos faz o que somos.
Assim, quando falarmos do outro, sejamos menos melodramáticos: é o outro? É, mas no tempo e à luz do real.
Real, tempo e o outros eus: isso nos faz.
E, obviamente, o mais importante de tudo: nós - que, com o tempo, com o real e com o outro, mas, sem nós, sem essa coisa-eu, essa máquina viva, eu, não há, para mim, nem real, nem tempo, nem outros...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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