domingo, 5 de maio de 2013

(2013/500) Igreja-hospital


1. Hospital: nome horrível. Tenta-se, por isso, "humanizá-lo". Logo se vê que ele não é humano. Coisa horrível estar lá... 

2. Está na moda falar de "humanização" de Deus e "humanização" da fé: há quem goste de tomar textos bíblicos e desenhar sobre eles o caminho - ai! - da "humanização" (eu só vejo, só esses mesmos textos [Gn 3, por exemplo]) maldade e sujeira, pecado e poder: os que tentam fazer desses textos alguma coisa que preste tentam fazer refresco com DDT. Eles mesmos não bebem: são gestores!, mas acham que dá para pôr isso no pasto das ovelhas...

3. A igreja é uma espécie de hospital... Não é de todo ruim a metáfora. Todavia, há dois problemas com esses hospital...

4. Primeiro, ele nunca cura. É como aquela ferida que, todos os dias, você cutuca, arranca a casca, deixa sangrar de novo. Às vezes, dá pus e, então, você manda o sujeito para o CTI. Às vezes, a infecção se generaliza e o sujeito morre. Mas curar que é bom, nunca. Algumas vezes, a doença se recolhe. Mas basta dar ocasião e ela retorna, ainda mais forte. 

5. Outro problema: não é um pronto-socorro: é uma casa de internação: o sujeito não vai lá para curar-se e voltar para casa. Ele vai para lá e nunca mais sai de lá: é como um manicômio - as portas estão abertas, mas ninguém sai, porque se trata de um tratamento que dura a vida inteira, além da morte e até o dia em que Deus morrer...


6. Ora, que lugar é esse em que não se curam nunca as doenças e em que se entra para morrer? Isso não pode ser um lugar de saúde. Não pode. 


7. Tem algo de muito errado - e desde há muito, muito tempo, com esse lugar, com essas paredes, com esse projeto: era para ser instância de tratamento, mas virou hospital penitenciário de doentes crônicos.

8. E eles querem fazer do mundo isso.






OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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