sexta-feira, 3 de maio de 2013

(2013/495) Sexo e Deus - eventualmente, nuvens e sombra


1. Deus, às vezes, é como o sexo...

2. Nua, a mulher pode tornar-se apenas um corpo. Não é necessariamente ruim que assim seja: para a vida, para aquilo que a vida é em si mesma, somos apenas isso: corpo. Mas, erguidos dessa lama de carbono e água, não somos mais apenas vida de carbono e água - somos, doravante, gente: e gente é mais do que corpo, conquanto não há gente alguma que não, também, esse corpo da gente...

3. Mas, assim, nua, o sexo pode cobrir a pessoa que há por trás daquele sexo: o desejo e a carne são tantos que a "alma" (ah, é um modo de dizer!) se esconde atrás de tanto fogo e faísca...

4. Por isso, é depois de apagada a chama, sobre cama e corpo, que a alma espera ser olhada, dentro dos olhos e encontrada lá, tão querida e forte quanto o corpo foi quisto e comido...

5. Deus, quantas vezes - todas? - serve também assim, para esconder pessoas. Eram as pessoas, o tempo todo, que deviam ser amadas, mas amou-se tanto Deus, mas tanto, que em em nome dele e do amor dele esconderam-se as pessoas: Deus é uma nuvem pesada da fuligem das fábricas dos mitos - e esconde as pessoas que devíamos amar...

6. Diferentemente do sexo, todavia, que, saciado, desencobre a pessoa que vestira a carne devorada, Deus permanece insaciável, de sorte que quanto mais a ele se ama, mais se escondem as pessoas nos buracos da fé, nas cavernas dos dogmas, nas sepulturas da espiritualidade...

7. Cuidaram liberdade, mas Deus é a prisão das pessoas.

8. Quem as ama em nome dele não as ama. Sequer as conhece.





OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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